O cineasta franco-suíço Jean-Luc Godard, que morreu hoje aos 91 anos, foi um autor que questionou o cinema "enquanto forma e meio de expressão e enquanto instituição", afirmou à agência Lusa o investigador António Preto.

Parte fundamental da ‘Nouvelle Vague’ francesa, movimento que revolucionou o cinema a partir dos anos 1950, Godard morreu hoje em casa em Rolle, na Suíça, revelou a família em comunicado citado pela agência France-Presse.

Morreu Jean-Luc Godard. Realizador da Nova Vaga tinha 91 anos
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Para António Preto, investigador e diretor da Casa Manoel de Oliveira, Jean-Luc Godard "é alguém que sempre pensou o cinema, e sempre fez um cinema, na órbita do que se pode entender como um cinema político. E fazer um cinema político é questionar o cinema enquanto forma e meio de expressão e enquanto instituição".

"Godard foi alguém que sempre esteve muito atento às evoluções do cinema, quer do ponto de vista da forma, da técnica e dos discursos, em diferentes latitudes. [...] Foi alguém que nunca virou costas a possíveis contaminações do cinema com outros meios", sublinhou.

António Preto recordou ainda a relação de Jean-Luc Godard com Manoel de Oliveira e os pontos de afinidade entre ambos: "O Oliveira como o Godard foram intensos descontrutores de formas e reinventores de formas e isso aproximou-os inequivocamente como grandes inventores de cinema. O cinema é uma forma própria, que tem um discurso e uma possibilidade de olhar para a realidade e de falar sobre ela, que é própria do cinema, ambos levaram muito longe esse desígnio".

Jean-Luc Godard e Manoel de Oliveira trocaram correspondência e encontraram-se algumas vezes, uma das quais nos anos 1990, quando o filme "Vale Abraão" se estreou em França. Esse encontro foi promovido pelo jornal Libération, quando "ambos falam sobre as suas visões e expectativas sobre cinema".

De acordo com a família, Jean-Luc Godard morreu pacificamente em casa e não está prevista qualquer cerimónia pública.