A história da banda vila-condense Turbojunkie, também uma janela para “a cena rock portuguesa dos anos 1990”, é recuperada em “Maquete ‘92”, único filme português na secção dedicada à música do festival Porto/Post/Doc.
O realizador Paulo Pinto passou anos a recuperar imagens e gravações de arquivo, documentação e outro material para este filme, pensado desde 2015 a partir de um contacto com os irmãos Paulo e Simão Praça.
“Era uma banda que foi tão grande nos anos 1990, e de repente desapareceu. Toda a gente perguntava onde estavam. É uma forma, também, de dar notícias, mostrar a história do que aconteceu. Não há novidade, mas há este olhar para os anos 1990 em que tínhamos uma riqueza cultural”, explicou o realizador, em entrevista à Lusa.
Ativos durante perto de nove anos, na última década do século XX, os Turbojunkie lançaram “Junkie For Sale” (1995), “Used” (1997) e “Turbojunkie” (1999), marcando pelo caminho, com atuações ao vivo celebradas, uma juventude que vivia o rock também através “dos ‘media’, com vários programas de televisão dirigidos à música”.
“O foco são os anos 90, e daí o ‘Maquete 92’, e a questão da maquete. Nos anos 90 era muito importante, todas as bandas tinham de ter. [...] O que me interessou realmente mostrar foi a minha visão daquele tempo”, conta Paulo Pinto.
Acabou a fazer “um bom retrato de Portugal nos anos 1990 em termos culturais”, com concertos em bares e batizados em igrejas, imagens e cassetes de programas de televisão e de rádio, como uma entrevista da banda ao radialista António Sérgio.
“Queria encontrá-la, sabia que a voz do António Sérgio, unida à dos Turbojunkie, toda a gente ia ter uma perceção muito diferente. Porque ele tinha esse poder, ele dava o aval. Quando dizia uma banda, íamos ouvir a banda. Encontrei-a em novembro de 2022, através da esposa”, revelou.
O filme, único de produção portuguesa na secção Transmission do Porto/Post/Doc, pode ser visto no Batalha - Centro de Cinema pelas 18:30 de sábado, depois da antestreia no Curtas de Vila do Conde.
Nessa secção, cruza-se com filmes sobre outros músicos, bandas e influências, vários dos anos 1980 e 1990, e Paulo Pinto vê mesmo uma ligação “entre esta banda nacional e muitas dessas influências daqueles músicos” dos Turbojunkie.
“É sempre ótimo quando há um olhar sobre a música cruzado com outras áreas, até porque a referência dos anos 90 era a MTV, havia o lado visual associado à música, que se foi diluindo no digital”, disse o realizador.
No sábado, último dia do festival, “Maquete ‘92” dialoga com “Little Richard: I Am Everything”, de Lisa Cortés, sobre “o verdadeiro Rei do Rock”, um músico negro, ‘queer’ e ícone da música norte-americana.
Antes, o Porto/Post/Doc apresenta “CAN and Me”, sobre a banda de ‘krautrock’ CAN, na terça-feira no Passos Manuel, numa sessão que inclui outro documentário sobre um projeto musical alemão, “Moderat: The Last Days”.
O filme “Mutiny in Heaven: Nick Cave’s The Birthday Party”, sobre a banda do músico australiano, ainda antes de fazer fama em nome próprio, realizado por Ian White, mostra a ascensão e queda do projeto de ‘pós-punk’ na quinta-feira, pelas 21:15, e na sexta-feira, às 23:30.
Mikel Cee Karlsson junta humor negro à história do guitarrista José González, num filme, “A Tiger in Paradise”, que combina efeitos especiais e histórias reais de surtos psicóticos do músico, com sessão marcada para as 19:15 de quinta-feira.
Um documentário sobre mulheres pioneiras no rock, “Rock Chicks - I Am Not Female To You”, um olhar sobre o flamenco (“Siete Jereles”) e um retrato de Pete Doherty são outras das propostas.
A ligação à música na edição de 2023, de resto, estende-se ainda a um programa evocativo dos “50 anos do Hip Hop”, começando com uma festa, no dia 18 de novembro, e estendendo-se a obras sobre ‘rappers’ como Nas ou Lil Peep, além de debates sobre o ‘rap’ português e a sua ligação ao ativismo.
O Porto/Post/Doc decorre até 25 de novembro no Porto, com a maior parte da programação no Cinema Batalha, no ano em que o festival dedicado sobretudo ao cinema documental celebra a 10.ª edição.
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