Depois de
Batman e
James Bond, chegou a vez do
Homem-Aranha ver a sua origem recontada no cinema, com uma nova abordagem, um novo realizador e novos atores.
Marc Webb, que se estreara no cinema com o filme independente
«(500) Dias com Verão», estreia-se nos «blockbusters» com esta adaptação do herói das Marvel, com
Andrew Garfield como Peter Parker (o Homem-Aranha) e
Emma Stone como a sua namorada Gwen Stacy. Por trás de tudo continua
Avi Arad, o produtor da maioria dos filmes da Marvel, agora a trabalhar com
Matt Tolmach.

A ideia de voltar ao início

Avi Arad (AA): O Homem-Aranha tem 50 anos de BD e há imensas histórias para contar. Logo a seguir ao
«Homem-Aranha 3» nós tivemos vontade de abordar uma parcela da história do Homem-Aranha que ainda não tinha sido contada no cinema, que era a da perda dos pais de Peter Parker, mas que não encaixava na primeira trilogia, realizada pelo
Sam Raimi. Na verdade é isso que define, em primeiro lugar, a identidade do Peter, sendo que logo a seguir vem a morte do tio Ben e o sentido de responsabilidade que isso lhe traz. Mas aquilo que o levou a ser um tipo solitário e que vive cheio de dúvidas foi o desaparecimento dos pais.

Matt Tolmach (MT): E classicamente, o início das grandes histórias envolve o protagonista a procurar as suas origens, a perceber qual é o seu lugar no mundo. A trilogia do Sam Raimi já tinha feito o seu percurso, e de forma excelente, mas ele próprio disse claramente que já tinha contado a sua história e era altura dele seguir noutra direção. E na BD as origens são recontadas várias vezes, são atualizadas para cada nova geração. O mundo muito nos últimos 10 anos, desde que estreou o «Homem-Aranha» inicial, por isso para os jovens as referências são todas diferentes. A noção icónica do «geek» mudou, antes o «geek» levava tareia, hoje o «geek» inventa o Facebook. O Peter Parker sempre foi um reflexo do mundo em seu redor e isso tinha de ser levado em linha de conta.

Um novo Peter Parker

Marc Webb (MW): Acho que nosso Peter Parker é um pouco diferente da encarnação que vimos antes no cinema. E achei importante que a audiência percebesse a personagem a partir da raiz, por isso começámos por mostrar o Peter com os pais e mostrar a trajetória emocional que deriva do facto dele nunca mais os ver, que era algo que nunca se tinha visto. Ou seja, quisemos ao mesmo tempo honrar a parcelas mais importantes do mito que todos conhecemos, como ele ser picado pela aranha ou a morte do tio Ben, mas compreendê-las de forma mais profunda. A ideia de trazer de volta os lança-teias [na trilogia anterior, as teias saiam organizamente do corpo do herói] foi inicialmente uma decisão tática, para diferenciar a nossa versão, mas acabou por ser uma forma de dramatizar o facto dele ser um génio da ciência, capaz de construir os seus próprios gadgets.

Do cinema independente aos «blockbusters»

MW: Na verdade, para mim não foi assim tão grande o salto de «(500) Dias com Verão» para «O Fantástico Homem-Aranha». Claro que há muito mais pressão para progredir rapidamente ao longo da produção neste filme porque há um número interminável de coisas para fazer. E há elementos como as cenas de ação e as expetativas do público que são muito diferentes. audiência que são muito muito diferentes. Mas depois, o «(500) Dias com Verão» era totalmente sobre os pequenos detalhes e as pequenas intimidades que existem entre duas pessoas, e no «Fantástico Homem-Aranha», apesar daquela camada de efeitos visuais, há imensos detalhes íntimos e momentos interpessoais que são essenciais para os movimentos de ação tenham significado. Por isso, não senti assim tanta diferença, porque era o lado intimista que estava no centro da história e continuou a ser nele que me apoiei. Na verdade, a ideia no «(500) Dias com Verão» era criar um grande universo a partir de pequenos detalhes e pequenos momentos, e no «Fantástico Homem-Aranha» a ideia era criar um universo pequeno e intimista a partir de uma história mais épica e cheia de efeitos visuais. Foi só inverter o processo.

As diferenças no uniforme

MW: Nós alterámos o uniforme um bocado, porque eu estava a tentar criar um fato que um miúdo pudesse fazer. Eu passei algum tempo a pensar que uniforme seria possível criar com os materiais que ele teria à mão ou que poderia arranjar. Por exemplo, os olhos: onde é que ele vai arranjar lentes? A óculos de sol, naturalmente, e por isso fomos à procura delas em lojas onde isso fizesse sentido, porque ele não tem uma fábrica de lentes nas traseiras da casa. Há algumas zonas do fato mal acabadas e eu gostei disso, seria normal. Os sapatos, por exemplo, são ténis. E esse lado realista aplicou-se a tudo o resto do filme: a ideia de pensar como é que um miúdo conseguiria fazer tudo aquilo.

Os elementos obrigatórios da história

MW: A Marvel é muito protetora em relação às suas personagens, principalmente à origem, mas na verdade eles foram mais consultores do que outras coisa. Eles têm um conhecimento enciclopédico daquele universo e quando estamos a tentar contar uma história há imensos desafios e truques, e ele estavam sempre muito interessados em ajudar-nos a resolver todos os problemas.

AA: Nós podemos fazer mais ou menos aquilo queremos fazer. Claro que temos a nossa própria censura daquilo que nunca nunca faremos. Por exemplo, o Peter Parker nunca vai matar alguém. Mas fora isso há muito poucas limitações, porque as histórias foram tão bem escritas que não há razão para mexer muito nelas, a não ser para atualizá-las e fazê-las funcionar no contexto de uma longa-metragem.

Andrew Garfield

MW: Encontrar um Peter Parker foi muito complicado porque é preciso pedir muito àquela personagem e àquele ator. Eu queria alguém que tivesse profundidade emocional mas que também conseguisse fazer humor, que tivesse uma fisicalidade intensa, e ainda que se parecesse com um adolescente. O Andrew é um pouco mais velho que um adolescente, mas quando ele entrou havia algo nele que se sentia ser muito daquela idade, ele corporizava a personagem como mais ninguém conseguira. Ele conseguia fazer não só as cenas divertidas e de ação, mas também as intimistas com a Emma Stone e as dramáticas com a
Sally Field. E foi um alívio enorme encontrá-lo porque no início eu pensei: «nós nunca vamos encontrar este tipo, mas o que é que eu vou fazer?». Houve momentos de pânico até ele aparecer.

AA: Não estávamos à procura de um novo
Tobey Maguire mas sim de um novo Peter Parker. O Andrew Garfield é tão diferente do Tobey Maguire como os respetivos filmes são diferentes entre si.

MT: O Andrew já não era um novato no ramo, estava em muitas conversas para muitos projectos, havia muitos realizadores a estudá-lo para várias coisas, portanto nós estávamos conscientes dele. Passaram pelo processo de testes e audições muitos atores muito talentosos. Mas ele foi o que mais se adequava, era preciso alguém que, mesmo com o rosto escondido debaixo da máscara, passasse a noção de que continuava a ser a mesma personagem.

A morte de Gwen Stacy

MW: Na BD, a morte da Gwen Stacy é um momento fulcral, é o momento em que o Peter percebe a importância do sacrifício. Ainda não abordamos isso neste filme mas era importante estabelecer já a força da relação deles.

AA: A BD em que a Gwen Stacy morreu é uma das míticas de sempre. Nós gostamos imenso da Emma Stone e vai ser difícil dar-lhe o mesmo destino. Mas o ponto é exactamente esse, para a história ter impacto temos mesmo de gostar muito da personagem e, neste caso, de quem a interpreta.

A escolha do vilão

MW: Há vilões muito frescos na mente dos espetadores, como o Green Goblin, e não quisemos ir por aí. Para mim este é um filme sobre peças perdidas, ou seja o Peter Parker perdeu os pais em criança e a falta daquela peça condiciona-lhe a vida toda, e o Dr. Curt Connors perdeu o braço e é a tentativa de o recuperar que o leva à pesquisa dos répteis, cujo membros cortados voltam a crescer, e em última análise à sua transformação no Lagarto. Havia uma simetria entre essas duas personagens que eu queria trabalhar. E claro que além disso, o Lagarto é um dos vilões mais icónicos da série, toda a gente gosta dele.

A possível sequela

MW: Ainda não pensei a fundo no próximo filme, o objetivo inicial é estrear este. Mas claro que desde o início pensámos numa história cuja amplitude se pudesse alargar a uma trilogia, e nesse sentido plantámos aqui algumas sementes que só germinarão mais à ftrente. Há uma longa sombra em relação aos pais do Peter Parker que se estenderá por eventuais próximos filmes, por exemplo. Mas o segundo ainda nem sequer está escrito.

MT: Ao fazer o primeiro filme temos de pensar nas consequências para um eventual segundo, e depois quando escrevemos o segundo temos de pensar na forma como as coisas se interligam ao primeiro, é como jogar xadrez.

Veja aqui as entrevistas do SAPO a Emma Stone e
Rhys Ifans e não perca amanhã a entrevista a Andrew Garfield.