Esta terça-feira, Ian McKellen festeja 82 anos (25 de maio de 1939).

Entre 2000-2001 e já com mais de 60 anos, tornou-se conhecido pelo grande público e um ícone da cultura pop graças aos papéis de Magneto e principalmente como Gandalf, mas a conquista deste estatuto graças aos mundos da ficção científica e fantasia esteve longe de ter sido relâmpago: as suas personagens mais populares no cinema beneficiaram da experiência de uma longa carreira e os seus novos e jovens fãs estavam a descobrir um dos maiores expoentes dos palcos britânicos.

Magneto

A carreira começou profissionalmente no início da década de 1960 e pela interpretação tanto dos clássicos de Shakespeare (ficaram célebres os seus Ricardo II e Hamlet) como do teatro moderno, em companhias de prestígio como a Royal Shakespeare Company e a National Theatre of Great Britain.

Inevitavelmente, o primeiro filme, "The Promise" (1969), foi a adaptação de uma peça, seguido, no mesmo ano, por "Alfredo, o Grande" e, já como protagonista, "Muito obrigada a todos".

Muito ocupado nos palcos e na televisão durante a década de 1970, regressou ao cinema como D.H. Lawrence em "Sacerdote do Amor" (1981), no mesmo ano em que ganhou o maior prémio do teatro americano pela interpretação de Salieri em "Amadeus".

Após "Escândalo" (1989), onde interpretou o político caído em desgraça John Profumo, e o sucesso prolongado de produção teatral de "Ricardo III", que reimaginava as personagens e a ação de Shakespeare na Europa fascista dos anos 1930, Ian McKellen, já com mais de 50 anos, tomou deliberadamente a decisão de expandir a sua carreira no cinema.

Ricardo III ('Ricardo III', 1995)

Com ofertas dos dois lados do oceano, em 1993 já o vemos em filmes de Hollywood, como no aclamado "Seis Graus de Separação", recordado por ter a primeira interpretação relevante de Will Smith no cinema, ou num breve papel como a Morte em "O Último Grande Herói", um grande "blockbuster" de Arnold Schwarzenegger.

No mesmo ano,  Ian McKellen, que desde o início da carreira nunca escondeu ser homossexual aos colegas e assumiu publicamente em 1988, também entrou e foi nomeado para um prémio Emmy por "E a Banda Continua a Tocar", um telefilme muito célebre na sua época sobre a descoberta da epidemia da SIDA.

Em 1995, trabalho o argumento e regressou ao papel do rei tirano na adaptação ao cinema de "Ricardo III". Um projeto muito pessoal e controverso, mas apesar de ser, para muitos, o papel mais brilhante da carreira no grande ecrã e das nomeações para os Globos de Ouro e os prémios da Academia de Cinema Britânica (BAFTA), falha a corrida aos Óscares. No ano a seguir, volta a ser notado como o czar Nicolau II no telefilme "Rasputine" (1996).

Deuses e Monstros

Para o Ian McKellen que hoje é mais conhecido, o ano determinante na carreira é 1998.

Primeiro, pelo primeiro encontro com o realizador Bryan Singer (antes de "X-Men") em "Sob Chantagem", uma marcante ainda que comercialmente fracassada adaptação de um conto de Stephen King sobre um fugitivo nazi que vive incógnito nos EUA e cuja identidade é descoberta por um adolescente (Brad Renfro), que ameaça denunciá-lo se ele não satisfazer o seu mórbido interesse pela época histórica que viveu.

A seguir, a entrada na "primeira divisão" de Hollywood, com "Deuses e Monstros", de Bill Condon, onde interpretava o realizador homossexual James Whale, que finalmente lhe valeu a primeira nomeação para o Óscar de Melhor Ator, que perdeu para Roberto Benigni em "A Vida é Bela".

Quase perdeu os dois grandes papéis da sua carreira

O Senhor dos Anéis

Há poucos anos, Ian McKellen reconheceu numa entrevista que era "ridículo" ter conseguido interpretar Gandalf nas trilogias "O Senhor dos Anéis" (2001-2003) e "O Hobbit" (2012-2014) e Magneto nos filmes "X-Men" (2000-2014).

"Um teria sido suficiente. Mas dois? E também esteve perto de não ter acontecido", revelou.

Após a primeira nomeação aos Óscares, chegou uma oferta muito tentadora para entrar em "Missão: Impossível 2", ao lado de Tom Cruise, no papel que acabaria por ser interpretado por Anthony Hopkins.

"Mas eles não me deixaram ver o argumento todo porque podia revelar os pormenores. Apenas recebi as minhas cenas. Não podia avaliar como era o argumento apenas por ler aqueles cenas. Portanto, recusei. E o meu agente disse, 'Não podes dizer que não a trabalhar com Tom Cruise!' e eu respondi, 'Acho que o vou fazer'.", recordou.

E no dia seguinte, recebeu outra proposta: "Bryan Singer pediu-me para interpretar Magneto e depois Peter Jackson pediu para ser Gandalf, e disse que sim a ambos.".

Mas quando a preparação para "X-Men" ultrapassou os prazos e a rodagem foi sistematicamente adiando, Ian McKellen viu-se na necessidade de fazer um telefonema para a Nova Zelândia.

"Tive de ligar ao Peter Jackson e dizer, "Desculpa. Não posso ser o Gandalf porque 'X-Men', que aceitei fazer primeiro, está a atrasar.", contou.

A resposta não podia ter sido mais surpreendente: "Vou guardá-lo para ti. Avisa-me do que acontecer."

Ao ouvir isto, Bryan Singer disse que ele tinha mesmo de ser Gandalf e prometeu-lhe que acabava a tempo a sua parte como Magneto: "E ele cumpriu – com três dias de intervalo."

A interpretação no primeiro dos três filmes, "O Senhor dos Anéis: A Irmandade do Anel" (2001), colocou-o novamente na corrida às estatuetas douradas, como secundário, mas voltou a perder, para Jim Broadbent em "Iris".

"O meu discurso esteve em dois casacos... 'Tenho orgulho de ser o primeiro homossexual assumido a ganhar o Óscar'. Tive de o voltar a colocar no bolso por duas vezes.", comentou em 2016.

Mas houve uma conclusão que tirou de todo o episódio: "É tudo uma questão de sorte – estar no momento certo e disponível. Não se pode preparar para a sorte. Aprendi que se tem de estar pronto para quando chega a sorte, mas vai ser preciso ter sorte."

O papel famoso que recusou e os anos com estatuto de estrela

Mr. Holmes (2015)

Pela mesma altura em que gozava o início da popularidade como Magneto e Gandalf, houve a possibilidade de Ian McKellen juntar uma terceira figura icónica do cinema, quando lhe perguntaram se estava interessado em entrar nos filmes "Harry Potter".

Não disseram qual o papel, mas a sua idade e o "timing" não deixavam lugar a dúvidas: era para substituir o falecido Richard Harris como o professor Albus Dumbledore.

Recordando-se que o colega tinha comentado um dia que ele, Derek Jacobi e Kenneth Branagh eram atores "tecnicamente brilhantes, mas desapaixonados", quem acabou por ser o novo diretor de Hogwarts a seguir a "Harry Potter e a Câmara dos Segredos" acabou por ser Michael Gambon.

"Percebi o que eles estavam a pensar e não podia. Não podia aceitar o papel de um ator que sabia que não me tinha aprovado", recordou em 2017.

Intercalando com o protagonismo de filmes independentes ou como secundário de luxo das grandes produções de Hollywood, como "A Casa da Loucura" (2005) e "O Código Da Vinci" (2006), Ian McKellen regressou ao teatro em aclamadas produções de "Rei Lear", "A Gaivota" e principalmente "À Espera de Godot", ao lado do velho amigo "X-Men" Patrick Stewart, antes de entrar na minissérie "The Prisoner" (2009), uma curiosa nova versão da série de culto dos anos 1960.

Com a liberdade de escolher os projetos e com quem trabalhar, após o regresso como Gandalf na trilogia "O Hobbit" (2012-2014) reencontrou o realizador de "Deuses e Monstros" Bill Condon para uma das suas melhores interpretações no cinema, como um Sherlock Holmes de 93 anos em "Mr. Holmes" (2015), e Richard Eyre para "The Dresser - O Camareiro" (2015), um premiado telefilme que proporcionou um feliz encontro com Anthony Hopkins.

OS PAPÉIS MAIS MEMORÁVEIS NO CINEMA

A versão em imagem real de "A Bela e o Monstro" (2017) e um perverso encontro com Helen Mirren em "A Mentira Perfeita" (2019), novamente realizado por Bill Condon, foram os seus trabalhos mais recentes no cinema antes de ser uma das estrelas perdidas na indescritível adaptação do musical de Andrew Lloyd Webber "Cats" (2019).

Após o impacto da pandemia, o reencontro com os fãs será no teatro e a Hamlet, a 21 de junho: "O teatro ao vivo voltará mais forte do que nunca. Porquê? Se vierem o Theatre Royal, Windsor, vai ser a minha voz que vão ouvir, a vir do meu diafragma e a atingir os vossos tímpanos. Estamos juntos e os seres humanos anseiam por estar juntos."

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