"Joker" entrou definitivamente na cultura popular.

Além de estar no centro de vários debates sobre saúde mental e violência desde que estreou nos cinemas no início de outubro, o filme tornou uma atração turística a longa escadaria situada na Bronx que o vilão da DC Comics interpretado por Joaquin Phoenix desce e dança ao som da canção "Rock and Roll Part II", de Gary Glitter.

Agora, está indiretamente no centro da agenda política na Grécia.

Uma polémica operação da polícia em duas salas de cinema em Atenas que retirou 19 menores que estavam a ver "Joker", incluindo quatro acompanhados pelos pais, motivou várias trocas de acusações entre políticos nos últimos dois dias.

Milhares de comentários nas redes sociais condenaram a ação, considerando-a "fascista" e própria de um "Estado autoritário".

Em causa está uma lei de 1937, atualizada em 2010, que criou o mecanismo de classificação dos filmes e inclui multas de dez mil euros aos funcionários dos cinemas que aceitem a presença de menores.

Ao contrário de outros países, onde a classificação etária varia entre os 12 e 18 anos, "Joker" foi apenas considerado apropriado para adultos na Grécia.

O Partido Syriza, na oposição, acusou o governo liderado pela Nova Democracia de extremismo policial, defendendo que não se trata de um incidente isolado, mas de mais uma ação concertada para levar o país de regresso à "Idade das Trevas".

Em resposta, o governo recordou que o Syriza esteve quase cinco anos no poder e podia ter alterado a lei.

Segundo a imprensa grega, dois responsáveis do Ministério da Cultura pediram à polícia para intervir quando constataram que andavam menores a ver o filme.

A Ministra da Cultura Lina Mendoni disse desconhecer oficialmente a existência de tal pedido e na segunda-feira deu uma conferência de imprensa a criticar o excesso de zelo dos seus funcionários.

Porém, soube-se mais tarde que o ministério tinha efetivamente emitido há 20 dias um aviso aos cinemas em todo o país para não admitirem menores.

Nas redes sociais, o antigo primeiro-ministro do Syrisa Alexis Tsipras publicou e depois apagou uma fotografia de Michalis Chrysochoidis, Ministro da Proteção Civil, a perseguir o Joker.

No entanto, num esforço para alivar a tensão, o mesmo Michalis Chrysochoidis anunciou que ia ver o filme... com o filho de 15 anos.