Gascón, que fez história ao se tornar a primeira transgénero a competir por um prémio da Academia de Hollywood, falou sobre o tema numa conferência de imprensa no JIIFF, o festival internacional de cinema que decorre anualmente no exclusivo balneário uruguaio de José Ignacio, ao qual comparece junto com o realizador do filme "Emilia Pérez", o francês e também nomeado aos Óscares Jacques Audiard.

"Obviamente houve algo muito interessante em Espanha com minha nomeação aos Óscares", contou a atriz, acrescentando que a notícia fez com que muito órgãos de comunicação social fossem atrás das suas origens em Alcobendas, o município na periferia de Madrid onde nasceu em 1972 como Carlos.

"Foram até à minha cidade para ver se alguém se lembrava de mim. Isso é ridículo, porque há trinta e tal anos que não estou ali. Com certeza tem sempre alguém que diz algo como: 'Ah, sim, lembro-me de quando jogava futebol aqui'. Mentirosos! Sabem apenas para aparecer na televisão", afirmou.

"Mas a questão é que o meu irmão estava num bar e [...] estava a passar a notícia sobre mim, e há sempre um idiota que faz parvoíces, e estava a insultar-me", acrescentou, destacando com orgulho como o irmão a defendeu.

Emília Perez
Emília Perez Karla Sofía Gascón em "Emilia Pérez"

"Vou começar a chorar, mas é muito feio. É sempre a mesma coisa, certo? Sofremos um ódio tremendo simplesmente por fazermos um filme, por sermos diferentes, embora eu não me considere diferente de ninguém, mas igual a toda a gente, igual e diferente como toda a gente, porque não existe ninguém igual", ressaltou.

Carlos Gascón era um galã loiro de olhos claros com papéis em telenovelas e uma carreira no México, até que anunciou a sua mudança de identidade em 2018.

Em "Emilia Pérez", que lidera a corrida aos Óscares com 13 nomeações, a atriz dá vida a um chefe do narcotráfico no México que quer mudar de sexo e de vida. Gascón interpreta o líder do cartel e a mulher depois da transição.

Por este papel, Karla Sofía Gascón já recebeu 30 nomeações e 13 troféus, entre eles o prémio coletivo de melhor atuação feminina no último Festival de Cannes.

O polémico filme "Emilia Pérez" será exibido este sábado no final do JIIFF em José Ignacio, a cerca de 160 quilómetros de Montevidéu, com as presenças da protagonista e do realizador.