Foi a 27 de agosto de 1964 que estreou «Mary Poppins», uma das últimas e grandes extravagâncias com envolvimento direto de Walt Disney. Cruzando imagem real com animação, canções que se tornaram clássicas (como «A Spoonful Of Sugar», «Feed the Birds», a preferida de Disney e, claro, «Supercalifragilisticexpialidocious»), o filme protagonizado por Julie Andrews e Dick Van Dyke faz parte da memória e está nos corações de crianças e adultos há meio século.
O papel da ama britânica perfeita e mágica lançou a carreira cinematográfica de Julie Andrews, escolhida depois de Walt Disney a ver numa atuação no musical «Camelot», valendo-lhe inclusivamente o único Óscar da sua carreira.
Porém, tal como retrata o recente «Ao Encontro de Mr. Banks», com Emma Thompson e Tom Hanks, a jornada para levar o livro de P.L. Travers ao grande ecrã foi longa e problemática e esteve muito perto de nunca acontecer.
Para assinar o aniversário, o Sapo Cinema reuniu algumas histórias... sobre a sequela que acabou (felizmente, acreditamos) por nunca se realizar.
- Grandes esforços tiveram lugar na década de 80 para fazer uma sequela quando dispararam as primeiras vendas em vídeo, mas as primeiras notícias sobre o tema surgiram logo após a estreia em 1964; o título provisório era «Mary Poppins Returns», baseado no livro seguinte de Travers «Mary Poppins Comes Back».
- De acordo com Dick Van Dyke, foi a morte de Walt Disney, em dezembro de 1966, que fez parar o processo, embora ele tivesse sentimentos ambivalentes sobre a sequela, recordando que nunca fez a continuação de «Branca de Neve e os Sete Anões» (37) apesar das insistências. Além disso, os custos podiam ser demasiado elevados: Andrews recebeu uns relativamente modestos (à época) 150 mil dólares para o filme original, mas no espaço de um ano, após «Música no Coração», já auferia 750 mil e 10% das receitas.
- Os rascunhos de um argumento dos anos 80 mostravam as crianças Jane e Michael Banks como adultos com os seus próprios filhos e o regresso de Mary Poppins para responder a problemas familiares não especificados.
- P.L. Travers, já com mais de 80 anos, também recetiva a uma sequela, chegou a trabalhar em rascunhos com o escritor e amigo Brian Sibley. No entanto, rejeitou completamente os planos do estúdio para a evolução geracional, mas gostava de ter visto Andrews repetir o papel, embora rejeitasse a participação de Dick Van Dyke como Bert (assim como de «quaisquer outros americanos»).
- No lugar de Bert, Travers e Sibley propunham-se recuperar uma personagem menor dos livros, a do homem dos gelados, como narrador e elemento de ligação dos vários episódios do enredo. Sibley revelaria muito mais tarde que um responsável do estúdio tinha sugerido para o papel Michael Jackson, comentando com entusiasmo o sonho de ter um cartaz encabeçado pelos nomes «Julie Andrews e Michael Jackson».
- Não completamente satisfeita com o argumento, a Disney recorreu a Perry e Randy Howze, argumentistas de «Pizza, Amor e Fantasia» (1988), mas os planos acabaram por ser definitivamente cancelados devido aos custos excessivos na pré-produção e por ter chegado a indicação de que Andrews afinal não estaria muito interessada.
- De certa forma, a sequela que nunca se concretizou surgiu em 2004 para assinalar os 40 anos da estreia do filme, numa curta-metragem de imagem real e animação com 10 minutos baseada no conto «The Cat That Looked at A King», uma das histórias de Travers. Nela, Andrews, em roupas contemporâneas, acompanhava duas crianças num passeio por um parque praticamente igual ao do cenário original.
Em 2013, «Mary Poppins» foi escolhido para ser preservado para a posteridade pelo National Film Registry, da Biblioteca do Congresso norte-americano, por ser «cultural, historica e esteticamente relevante».
Veja o trailer original e a galeria de imagens com os atores principais.
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