Morreu Don Murray, o último dos atores que partilhou protagonismo e fez par romântico com Marilyn Monroe.
A sua morte a 2 de fevereiro, aos 94 anos, foi confirmada por um dos filhos ao jornal The New York Times, sem revelar mais informação.
Em "Paragem de Autocarro" (1956), o seu primeiro filme após trabalhar na Broadway, foi nomeado para o Óscar de Melhor Ator Secundário aos 26 anos pelo papel do 'cowboy' ingénuo e bruto do Montana que se apaixonava pela sofisticada cantora interpretada por Monroe.
“Ninguém poderia estar menos qualificado do que eu. Era um nova-iorquino que nunca havia montado um cavalo a sério e tinha enfrentado jogadores de futebol, mas nunca um novilho de 225 quilos", recordaria mais tarde sobre a sua revelação no cinema, citado pelo The Hollywood Reporter.
Foi ainda durante a rodagem que conheceu a atriz Hope Lange, com quem viria a casar, mas o par divorciou-se em 1961.
A oportunidade ao lado de Monroe quase não aconteceu pois o ator recusou a exigência do estúdio para que assinasse um contrato de longo prazo, forçando a inclusão de uma cláusula que lhe permitisse regressar aos palcos.
Já em 1951, recusara uma primeira oportunidade de Hollywood quando lhe foi oferecido um contrato de 150 dólares por semana, que daria ao estúdio o direito de o colocar nos filmes que quisesse sem ter uma palavra a dizer, preferindo ficar pela Broadway e a televisão em direto.
Na vida fora dos ecrãs, mostrou ainda a sua independência como objetor de consciência durante a Guerra da Coreia (1950-1953), fazendo uma pausa de três anos na carreira para auxiliar órfãos e vítimas de guerra em campos de refugiados na Alemanha e Itália antes de regressar aos EUA em 1955.
Entre vários westerns pelo meio, houve outros filmes importantes na sua carreira, marcada pela religiosidade, questões raciais, sexualidade e consumo de drogas, em papéis invulgares para o seu tempo, como o do toxicodependente em "A Hatful of Rain / Cárcere Sem Grades" (1957), de Fred Zinnemann; o 'cowboy' religioso em fuga após matar por acidente o filho de um poderoso rancheiro em "From Hell to Texas / O Homem Que Não Queria Matar" (1958), de Henry Hathaway; o relutante membro do IRA em "Shake Hands With the Devil / De Mãos Dadas com o Diabo" (1959), de Michael Anderson; o padre jesuíta que se dedicava a ajudar delinquentes em "The Hoodlum Priest / Refúgio de Criminosos" (1961), de Irvin Kershner, onde foi um dos argumentistas; o senador homossexual no armário alvo de chantagem em "Advise & Consent / Tempestade Sobre Washington" (1962), de Otto Preminger; e o professor alcoólico em "Sweet Love, Bitter" (1967), de Herbert Danska.
"Vim para Hollywood e disseram-me que precisava estabelecer uma personalidade com a qual o público se pudesse identificar (...). Fiz exatamente o oposto”, diria.
"One Man’s Way" (1964), "Childish Things" (1969), "Parabéns, Wanda June" (1971) e "A Conquista do Planeta dos Macacos" (1972) antecederam muitos filmes para TV antes de um regresso ao grande ecrã para ser o pai de Brooke Shields em "Um Amor Infinito" (1981), de Franco Zeffirelli, e o avô de Helen Hunt em "Peggy Sue Casou-se" (1986), de Francis Ford Coppola.
Pelo pequeno ecrã andou pela telenovela "Knots Landing" no início dos anos 1980 e após anos afastado, regressou para "Twin Peaks: The Return" (2017) como o executivo-chefe da seguradora Lucky 7.
Após se divorciar de Hope Lange, casou em 1962 com a antiga modelo Bettie Johnson. Tiveram cinco filhos.
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