Morreu Lauro António, avançou o jornal Público.
Tinha 79 anos e dedicou a vida ao cinema, como espectador, crítico, ensaísta, programador, diretor de festival, professor, cineclubista, argumentista e realizador, tendo também encenado para teatro.
A notícia foi confirmada nas redes sociais pelo filho, o realizador, produtor e encenador Frederico Corado, que disse à Agência Lusa que foi vítima de "um ataque cardíaco fulminante" hoje de manhã em casa, em Lisboa.
Segundo Frederico Corado, o pai estava a preparar um novo ciclo de programação no espaço cultural Casa das Imagens, em Setúbal, dedicado ao antigo cinema Apolo 70, de Lisboa.
O funeral realizar-se-á esta sexta-feira, às 14h15, para o cemitério dos Olivais, em Lisboa.
A Academia Portuguesa de Cinema já lamentou o desaparecimento do seu membro honorário, que homenageara com um prémio de carreira em 2018.
Nascido em Lisboa, a 18 de agosto de 1942, Lauro António de Carvalho Torres Corado passou a infância e parte da adolescência em Portalegre, que terá sido decisiva na forma como se aproximou da escrita e da cultura, em particular do teatro e do cinema.
De regresso a Lisboa, em 1958, formou-se em História e ainda nos tempos de Faculdade de Letras, na década de 1960, começou por ser crítico de cinema nos jornais República e Diário de Lisboa, na revista Plateia, que estenderia depois à revista Opção, ao Diário de Notícias, a A Capital e ao semanário Se7e, entre outras publicações.
Foi ainda membro do Cine-Clube Universitário de Lisboa, dirigente do ABC Cine-Clube e cofundador do festival Festróia, e programador de festivais e várias salas de cinema (as antigas Estúdio Apolo 70, Caleidoscópio, Foco).
Depois de ter experimentado a realização durante o serviço militar, Lauro António fez o primeiro filme profissional em 1975, quando rodou a curta documental "Vamos ao Nimas", sobre os cinemas de Lisboa.
Entre a mais de uma dezena de filmes, as mais reconhecidas foram as adaptações das obras literárias de Vergílio Ferreira "Manhã Submersa" (1980), que estreou no Festival de Cannes, e de José Régio "O Vestido Cor de Fogo" (1985).
Para televisão, dirigiu por exemplo "Histórias de Mulheres" (a designação comum de quatro médias-metragens, "Paisagem sem Barcos", "Mãe Genoveva", "Casino Oceano" e "A Bela e a Rosa"), "A Paródia", "Novo Elucidário Madeirense", "Cantando Espalharei", "Conto de Natal", "José Viana, 50 Anos de Carreira" ou "Humberto Delgado: Obviamente, Demito-o!".
No "Dicionário de Cinema Português", Jorge Leitão Ramos escreve que, com "Manhã Submersa", Lauro António tornou-se "um nome seguro da geração dos anos 70", mas as obras seguintes, como a série "Histórias de mulheres" e "O Vestido Cor de Fogo", não tiveram tanta visibilidade.
Além de programar várias salas, a intensa atividade de Lauro António em torno do cinema fê-lo colaborar com a RTP e a RDP, publicar ensaios, dirigir festivais de cinema em Portalegre, Seia, Viana do Castelo e em Famalicão, e lecionar, consecutivamente, em cursos sobre cinema.
Nos anos 1990, tornou-se uma figura bastante popular no pequeno ecrã também à frente das câmaras juntos dos amantes do cinema com o início das emissões do canal TVI a 20 de fevereiro de 1993 e o programa "Lauro António Apresenta...", onde introduzia aos espectadores clássicos organizados por ciclos de realizadores ou temáticas. O título seria recuperado para um blogue que atualizava com regularidade com crítica sobre cinema.
Manteve-se como consultor de cinema na TVI até 1999 e foi o comentador da primeira cerimónia de entrega dos Óscares exibida em direto pelo canal, no ano em que ganhou "Imperdoável", de Clint Eastwood (1993).
Foi autor de cerca de 50 livros relacionados com cinema, como "Cinema e Censura em Portugal" e "O Cinema entre Nós".
Em 2018, Lauro António recebeu o Prémio Carreira do Fantasporto, foi distinguido pela Academia Portuguesa de Cinema com um prémio Sophia de carreira e condecorado pelo Presidente da República com o grau de comendador da Ordem do Infante D. Henrique.
Lauro António estava atualmente ligado ao espaço cultural Casa das Imagens, que abriu em maio do ano passado em Setúbal, próximo do Fórum Luísa Todi e contíguo à biblioteca municipal, resultado de uma doação que fez à Câmara Municipal de cerca de 50 mil livros, filmes, fotografias, cartazes, documentos e objetos relacionados com cinema e imagem.
"Aquilo que vai inaugurar-se é uma biblioteca, uma mediateca - tenho cerca de 10 mil DVD de filmes, VHS - e ainda um arquivo pessoal com várias coisas relacionadas com cinema, com a minha atividade como realizador e como crítico e outras coisas mais", explicou na altura à Agência Lusa.
O que foi cedido para a Casa das Imagens era apenas uma parte do acervo pessoal que Lauro António quis disponibilizar para consulta pública, para que não se dispersasse ou caísse no esquecimento.
(*) Notícia atualizada às 17h12 com informação do funeral.
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