Nascido Menahem Globus, filho de emigrantes polacos, a 31 de maio de 1929, adotando o apelido hebreu Golan por motivos patrióticos depois de servir na Força Aérea durante a Guerra da Independência em 1948,
Menahem Golan foi um pioneiro do cinema israelita: no início dos anos 60 começou a trabalhar com o lendário produtor Roger Corman e estreou-se na realização com «El Dorado» em 1963. Um ano mais tarde, foi o produtor de «Sallah Shabati», que se tornou o primeiro título israelita nomeado para o Óscar de melhor Filme Estrangeiro.
Dono de uma daquelas personalidades maiores que a vida, Golan fundaria a seguir uma produtora local, a Noah Films e outros filmes foram nomeados para o Óscar na mesma categoria: «Amo-te Rosa» (1972), «Ha-Bayit Berechov Chelouche/ The House on Chelouche Street» (73) e «Raid sobre Entebbe: Operação Relâmpago» (77). Este último, dirigido pelo próprio Golan, fê-lo partir à conquista de Hollywood com o primo e parceiro de negócios Yoram Globus, que recordou agora que este «vivia, respirada e comia cinema».
Juntos, deixaram a sua grande marca quando compraram em 1979 a Cannon Films, uma produtora em decadência, e quase a transformaram no sétimo grande estúdio de Hollywood na década seguinte, lançando dezenas de títulos - no seu auge chegavam a ser uma dúzia por ano -, que satisfaziam o apetite voraz dos espetadores por cinema popular que chegou com a massificação dos videogravadores no início dos anos 80. Em 1984, com vários títulos em competição e dezenas no mercado, os primos chegaram a dizer que não era «Cannes, mas o Festival de Cinema de Cannon».
Dos mais de 200 filmes que produziram ou distribuíram, em poucos era discernível qualquer preocupação com a qualidade: eram típicos «série B», com todas as virtudes e defeitos de terem baixo orçamento, serem realizados por tarefeiros e com atores sem talento ou simplesmente disponíveis para aceitar o generoso dinheiro que os primos tinham para distribuir.
As histórias sem coerência tinham poucas palavras e muita violência bruta misturada com artes marciais, distribuída nomeadamente por
Chuck Norris (8 filmes em conjunto), Michael Dudikoff ou
Jean-Claude Van Damme, mas os filmes foram obscenamente populares e deram origens a várias sequelas:
«Desaparecido em Combate», «Força Delta»,
«O Vingador da Noire» (liderado por
Charles Bronson) ou «O Regresso do Ninja Americano».
Outros «clássicos» gloriosos da época foram «Sahara» (83), «Bolero» (84), « Ninja III: The Domination (1984, que realizou) «Invasão EUA» (85),
«As Minas do Rei Salomão» (86),
«Cobra, o Braço Forte da Lei» (87),
«O Lutador» (87),
«Masters do Universo» (1987), o catastrófico e imperdoável
«Superman IV: Em Busca da Paz» (87),
«Bloodsport - Força Destruidora» (88),
«Cyborg» (89) ou «Lambada, Fogo da Noite» (90).
Tendo em conta a filosofia da produção, é intrigante que tenham saída da Cannon alguns, poucos, títulos de prestígio ou, pelo menos, curiosos: «Amantes» (84, de
John Cassavetes), que ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim (na época diria «Se Taiwan quer Bronson, então também vão ter de aceitar Cassavetes»), «Assassino à Força» (84, «I'm Almost Not Crazy: John Cassavetes - The Man and His Work» (84, Michael Ventura),
Anthony Harvey),
«Ligações Quentes» (85,
Robert Altman),
«Comboio em Fuga» e «Dueto Só Para Um» (85 e 86,
Andrey Konchalovskiy), «As Forças do Universo» e «Massacre no Texas 2» (85 e 86,
Tobe Hooper), «Link» (86, Richard Franklin), «Otello» (86, Franco Zefferelli), «King Lear» (87,
Jean-Luc Godard), «Os Duros Não Brincam» (87, Norman Mailer), «Barfly - Amor Marginal» (87,
Barbet Schroeder),
«Powaqqatsi» (88,
Godfrey Reggio) e
«Um Grito de Coragem» (88,
Fred Schepisi).
Em 1989, Golan demitiu-se da Cannon, que entraria em bancarrota em 1993. Através da 21st Century Film Corp., ainda produziria uma desastrosa versão de «Capitão América» (90), mas não conseguiu concretizar as mesmas ambições com «O Homem-Aranha». Regressaria pouco depois a Israel, continuando a dedicar-se ao cinema e teatro.
O legado dos primos foi documentado com simpatia em «The Go Go Boys», de Hila Medalia, apresentado no Festival de Cannes em maio, bem como noutro documentário, alegadamente brutalmetne honesto, «Electric Boogaloo: The Wild, Untold Story of Cannon Films», de Mark Hartley, que irá passar no Festival de Toronto em setembro.
Comentários