A Netflix continuará fiel ao seu modelo de estrear quase todos os seus filmes apenas na sua plataforma, reservando um lançamento limitado nos cinemas para os seus filmes à conquista de prémios.

Numa conferência com os acionistas durante a apresentação dos resultados da sua empresa para o primeiro trimestre do ano, o diretor executivo da plataforma reafirmou a satisfação com a atual estratégia de lançamento dos seus filmes originais e não ter a intenção de dar prioridade ao grande ecrã, seguindo o exemplo das rivais Amazon Prime Video e Apple TV+.

"A divisão de cinema está a ir muito bem. Levar as pessoas ao cinema simplesmente não é o nosso negócio. Ter um grande conteúdo novo e apetecível aumenta o valor para os nossos subscritores e aumenta o valor para o nosso negócio. Não há nenhuma grande mudança no horizonte", disse Ted Sarandos.

Este responsável da Netflix acrescentou que as plataformas rivais, apesar de ser tentador fazer comparações, "simplesmente” não têm a mesma dimensão e penetração no mercado,  o que "permite a oportunidade de investir nestes grandes filmes e levá-los aos nossos subscritores".

Em contraste, Amazon e Apple mudaram as suas estratégias e anunciaram investimentos de milhões de dólares no lançamento exclusivo de vários títulos apetecíveis no grande ecrã, tanto nos EUA como no mercado internacional.

A primeira já o fez com "Air", de Ben Affleck e com Matt Damon e Viola Davis, a segunda irá fazê-lo por exemplo com "Napoleão", de Ridley Scott e com Joaquin Phoenix, e "Killers of the Flower Moon", de Martin Scorsese e com um elenco de estrelas liderado por Leonardo DiCaprio e Robert De Niro.

Para estas plataformas, o ganho principal não é o financeiro, mas o reconhecimento ligado à publicidade, ao reconhecimento público e ao marketing de ser lançado nos cinemas: "Air" chegará ao serviço Amazon Prime Video com muito mais impacto público e cria "fluxos de receita adicionais", como os de "video-on-demand" e outras oportunidades de licenciamento, que não são possíveis quando o lançamento é diretamente em streaming.

No ano passado, alguns observadores da indústria acreditavam que a Netflix acabaria por se aproximar do modelo tradicional de lançamento dos filmes dos outros estúdios de Hollywood, depois de um acordo sem precedentes com os principais exibidores nos EUA e Grã-Bretanha para a estreia no grande ecrã de "Glass Onion: Um Mistério Knives Out".

Num contexto pós-pandemia de aproximação entre as duas partes, a sequela de "Knives Out - Todos São Suspeitos" (2019) foi exibida durante uma semana a partir de 23 de novembro em mais de 600 cinemas dos exibidores AMC, Regal e Cinemark, apesar do lançamento na plataforma estar marcado para um mês mais tarde.

Vários responsáveis dos cinemas disseram publicamente que este podia ser o primeiro de vários acordos e que "todos ficam a ganhar se isto funcionar", mas Ted Sarandos deitou um balde de água fria pouco depois: "Estamos no negócio de entreter os nossos subscritores com filmes Netflix na Netflix, portanto é nisso que estamos a focar toda a nossa energia e a maioria do nosso investimento".

E acrescentava a posição que reafirmou esta terça-feira: "Há sempre todo o tipo de debates, para trás e para a frente. Mas não há dúvida de que fazemos os nossos filmes para nossos subscritores e queremos realmente que eles os vejam na Netflix. E, claro, com uma semana de lançamento nos cinemas, a maioria das pessoas irá vê-los na Netflix. Assim como veem todos os filmes. A maioria das pessoas assiste à maioria dos filmes em casa".