A pretexto dos 50 anos da estreia, o irreverente e épico
«O Evangelho Segundo São Mateus» de
Pier Paolo Pasolini, recebeu o mais inesperado dos elogios: o do diretor do jornal do Vaticano «L'Osservatore Romano».
Giovanni Maria Vian faz uma análise bastante elogiosa, afirmando que se trata de uma das maiores obras-primas do cinema mundial e certamente «o melhor filme já feito sobre a vida de Jesus», aquele que, efetivamente, representa a sua reabilitação. «A humanidade febril e primitiva que o realizador mostra no ecrã termina por conceder um novo vigor ao verbo cristão, que aparece neste contexto mais atual, concreto e revolucionário. Significativamente, o filme foi digitalizado pela filmoteca do Vaticano.
Prémio Especial do Júri no Festival de Veneza em 1964 e criticado na época pela forma «pouco sagrada» como retratava um Jesus demasiado humano. Dedicado ao Papa João XXIII, que trouxe a Igreja Católica para o século XX, o trabalho foi uma surpresa tão chocante quando improvável de Pasolini, ateu, homossexual e marxista, mas que também afirmara que «nenhuma palavra poderá alcançar a altura poética do relato bíblico».
Ainda em 1964, «O Evangelho segundo São Mateus» destacou-se por recorrer a um estilo de semi-documentário e a atores não profissionais: a mãe do realizador, Susanna Pasolini, foi a Virgem Maria, e o protagonista era Enrique Irazoqui, um agnóstico anarquista espanhol antifranquista de 19 anos que só aceitou participar depois de convencido pela escritora Elsa Morante e viu a polícia retirar-lhe o passaporte quando regressou ao seu país «por participar num filme marxista».
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