Olivia de Havilland, que completa 100 anos esta sexta-feira, continua a ser para muitos a doce Melanie Hamilton de "E Tudo o Vento Levou", clássico americano que decorre durante a Guerra de Secessão e que se tornou um dos maiores ícones do cinema.

Quase 80 anos depois, a vencedora de dois Óscares de Melhor Atriz - por "Lágrimas de Mãe" (Mitchell Leisen, 1946) e "A Herdeira" (William Wyle, 1949) - continua a ser associada ao filme de Victor Fleming, ao lado de Clark Gable e Vivien Leigh.

Vencedor de dez prémios da Academia, incluindo o de Melhor Filme e Melhor Realização (1939), este lendário filme, um dos maiores sucessos comerciais da história do cinema, rendeu-lhe a nomeação para Melhor Atriz Secundária.

Última atriz viva desta adaptação para o cinema do romance de Margaret Mitchell, Havilland vive em Paris há mais de 60 anos. É atualmente a decana dos atores americanos, batendo Kirk Douglas em cinco meses e oito dias.

Jovem ingénua no início da sua carreira nos anos 1930 em filmes de aventuras ao lado de Errol Flynn, a atriz soube conseguir papéis de caráter forte que fizeram dela uma estrela.

Americana de origem britânica, Olivia de Havilland nasceu em Tóquio em 1 de julho de 1916 de pais britânicos, a ex-atriz Lillian Fontaine, conhecida como Lillian Augusta Ruse, e Walter de Havilland, advogado de patentes.

"Irmãs-inimigas"

Olivia de Havilland tinha como irmã mais nova (15 meses) e rival desde sempre, a atriz Joan Fontaine (falecida em 2013), a inesquecível Rebecca de Alfred Hitchcock, também vencedora do Óscar de Melhor Atriz por seu papel em "Suspeita" (1942).

O relacionamento das duas foi marcado pela rivalidade emocional e profissional extrema, que lhes valeram o epíteto de "irmãs-inimigas" do cinema, algo não esmoreceu nem mesmo com a morte de Joan Fontaine, em Carmel (Califórnia).

Após o divórcio dos seus pais, quando ela tinha três anos de idade, Olivia foi com a mãe para os Estados Unidos, estabelecendo-se perto de São Francisco (Califórnia). Foi a primeira das duas irmãs a ir para o cinema, enquanto Joan chegou a viver dois anos no Japão com o pai.

Aos 19 anos, apareceu em "Alibi Ike" de Ray Enright e, logo em seguida, fez a sua estreia em grande nos palcos interpretando Hérmia em "Sonho de uma Noite de Verão", de William Shakespeare, antes de conseguir o papel na sua adaptação para o cinema.

A seguir, assinou um contrato de sete anos com o estúdio Warner, que acusou de limitar os seus papéis a apoio de Errol Flynn, em filmes de Michael Curtiz como "Capitão Blood" (1935)."A Carga da Brigada Ligeira" (1936) e "As Aventuras de Robin dos Bosques" (1938).

Foi graças a um pedido pessoal à esposa do patrão da Warner que este concordou em "emprestá-la" em 1939 para o que o ponto de partida para grandes sucessos, que foi escolhida para "E Tudo o Vento Levou" pelo produtor David O. Selznick e o realizador então escolhido, George Cukor, depois demitido.

Em 1943, a Warner recusou-se a libertá-la no final do seu contrato por causa dos períodos de "empréstimos", fazendo com que esta recorresse à justiça, mesmo sem o apoio dos colegas.

Contra todas as expetativas, o juiz comparou a prática do estúdio à escravidão, dando razão à atriz e criando um precedente na defesa dos direitos dos atores. A lei que torna tais práticas ilegais tem o seu nome:  "de Havilland Decision".

Aproveitou ao máximo a decisão para se lançar para desafios de maior qualidade. Seguiram-se vários triunfos, que passaram pelos dois Óscares. Nos muitos filmes em que participou, teve parceiros como Richard Burton ("A Minha Prima Raquel", 1952), Bette Davis e Joseph Cotten ("Com a Maldade na Alma", 1965), Liv Ullman ("Papisa Joana", 1973), Jack Lemmon, Joseph Cotten e Christopher Lee ("Aeroporto 77", 1977).

Olivia de Havilland casou e divorciou-se duas vezes - com o escritor americano Marcus Goodrich (1946-1952) e com o jornalista francês Pierre Galante (1955-1979). Teve um filho, Benjamin, que morreu em 1991, e uma filha, Gisèle.

Vive na França desde 1953, país que a agraciou em 2010 com a Legião de Honra.