A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood adicionou cor à edição deste ano dos Óscares, com um recorde de atores negros nomeados para os prémios, cuja cerimónia terá lugar a 26 de fevereiro. Ainda assim, chamou a atenção a ausência de latinos nas principais categorias.

Sete dos 20 nomeados são negros, incluindo Mahershala Ali, Naomie Harris e o realizador Barry Jenkins com "Moonlight", que aparece em oito categorias no total. Juntam-se o dois vezes premiado Denzel Washington e Viola Davis por "Vedações"; Octavia Spencer por "Elementos Secretos"; e Ruth Negga, por "Loving".

É a primeira vez que pelo menos um ator negro é nomeado nas quatro categorias de representação. A isto soma-se o facto de que quatro dos cinco documentários nomeados são de cineastas negros.

"O que uma 'hashtag' pode fazer", escreveu Sasha Stone, editora da Awards Daily.

A analista referi-se ao protesto #OscarsSoWhite [Óscares muito brancos], que invadiu as redes sociais depois de dois anos com exclusividade de atores brancos entre os nomeados.

"Um ano a refletir a experiência negra não compensa 80 anos de subrepresentação de TODOS os grupos", observou April Reign, criadora da polémica 'hashtag'.

E agora, além dos atores brancos e negros, aparece entre os cancidatos Dev Patel ("Lion - A Longa Estrada para Casa"), britânico filho de pais indianos.

Polémica encerrada? Não: este ano não foi nomeado nenhum ator latino.

Benicio del Toro foi o último a ganhar um Óscar para casa há 16 anos por "Traffic". E o último nomeado foi Demián Bichir, em 2011, por "A Better Life".

Nesta cerimónia, o mexicano Rodrigo Prieto compete em categoria de fotografia por "Silêncio"; o aclamado Lin-Manuel Miranda, de origem porto-riquenha, disputará o prémio com a canção "How Far I'll Go", de "Vaiana" e o espanhol Juanjo Giménez está nomeado pela curta "Timecode".

Talento

Um estudo da Universidade do Sul da Califórnia mostrou que 5,3% das personagens que apareceram nos 100 filmes mais populares nos EUA em 2015 eram latinas - contra 73,7% de brancos e 12,2% de negros - num país com quase 57 milhões de hispânicos, a principal minoria do país.

Além disso, os latinos são responsáveis por um quarto das receitas de bilheteira doméstica.

"Infelizmente estamos subrepresentados em cada filme, em cada estúdio, em cada departamento de marketing", denunciou num artigo Santiago Pozo, fundador da companhia hispânica Arenas Entertainment e membro da Academia desde 1993.

Para A.J. González, cineasta e ex-professor de cinema da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), o problema começa com o financiamento dos filmes.

"Não há um nome latino com peso suficiente para atrair investimentos", explicou à  AFP.

Foi assim, por exemplo, que a galesa Catherine Zeta-Jones interpretou Elena Montero em "A Máscara de Zorro" (1998), fazendo par romântico com Antonio Banderas; e os americanos Ben Affleck deram vida ao mexicano-americano Tony Mendez em "Argo" (2012), Madonna a Eva Perón e Al Pacino ao gangster cubano Tony Montana em "Scarface" (1983).

O próprio Mahershala Ali interpreta Juan, um cubano que emigrou para Miami, embora não tenha sotaque e que disse sobre a polémica racial: "Espero não ter sido nomeado por ser negro. Isso não tem relevância".

As nomeações "não são uma mensagem", afirmou a presidente da Academia, Cheryl Boone Isaacs, consultada sobre a polémica racial. "A verdade é que tem a ver com talento", prosseguiu.

Evolução

Nestes dois anos de "Óscares muito brancos", o mexicano Alejandro González Iñárritu ganhou como melhor realizador e em 2014 foi Alfonso Cuarón, enquanto o diretor de fotografia Emmanuel Lubezki conquistou três estatuetas seguidas.

No entanto, todos os prémios foram atribuídos a filmes que não retratam protagonistas latinos: "The Revenant", "Birdman" e "Gravidade".

"Muitos argumentistas, produtores e realizadores não querem estar relacionados a nenhum conteúdo latino, querem fazer parte do 'mainstream'", sem etnicidade", explicou à AFP Tom Nunan, produtor de filmes como "Crash " e orador na UCLA.

São também nomes de peso, mas em número insignificante em relação ao tamanho da população.

De qualquer forma, os analistas acreditam que os atores hispânicos ganharão mais espaço no grande ecrã, mas o processo é lento. Diego Luna, Oscar Isaac, Michael Peña, Edgar Ramírez e Rodrigo Santoro aparecem cada vez mais nos créditos de Hollywood.

"Sentimos que tem existido um avanço que reflete o talento e o poder que a nossa comunidade tem quando nos dão oportunidade", salientou a Associação Nacional de Produtores Independentes Latinos.

A Academia comprometeu-se no ano passado a aumentar significativamente até 2020 o número de membros mulheres e de minorias. Atualmente, de seus 6.687 membros, 27% são mulheres e 11%, não brancos.

A pensar no ano que vem, talvez uma campanha nas redes sociais por #OscaresMaisLatinos possa dar uma ajuda.

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