As produtoras Animanostra e Animais motivam esta semana no 40.º festival Cinanima um programa especial dedicado aos seus 25 anos de atividade e, surpreendidas pela sua própria "resistência", defendem que a animação portuguesa está agora na melhor fase.

Em declarações à Lusa, o diretor da Animanostra, Humberto Santana afirma: "A época áurea da animação portuguesa é a presente. Sem minimizar algumas pequenas obras-primas ao longos dos últimos anos, nunca como hoje houve tanta gente a fazer filmes de animação, nunca se contabilizou uma taxa de produtividade de obras de tão grande qualidade e nunca houve tanta gente bem formada para exercer a sua atividade profissional no âmbito da animação".

Nuno Amorim, da Animais, concorda que o género se encaminha para um futuro promissor.

"Embora já somemos em Portugal uns quantos nomes sonantes que nos enchem de orgulho, consideramos que a época áurea está a começar, havendo hoje uma maior presença de cinema animado nas escolas, mais estúdios de animação, mais profissionais no terreno, mais autores consagrados e novos criadores, e ainda muito talento por descobrir", afirma.

Ambos os realizadores reconhecem, aliás, que o Cinanima teve um papel "crucial" e "decisivo" na divulgação do cinema de animação, inspirando "várias gerações de criadores e profissionais" e sabendo reinventar-se para enfrentar uma concorrência que se tornou "mais agressiva" à medida que o género "ganhou uma dimensão económica global extremamente influente".

Os diretores das duas produtoras expressam, contudo, opiniões algo diferentes quanto ao ritmo a que a animação portuguesa continuará agora a evoluir.

"Só posso exprimir espanto perante a constatação desta longevidade numa atividade como a da Animanostra, porque 25 anos a fazer filmes de animação em Portugal é uma imponderabilidade", argumenta Huberto Santana. "Há que ser realista: por mais marcantes que possamos considerar as obras de animação nacional, em termos de escala somos praticamente insignificantes. É certo que temos autores com nomes reconhecidos em todos os cantos do mundo mas, em termos de mercado, não existimos. Nem sequer internamente".

Para esse realizador, o mercado português precisa, portanto, "de ser ativado" e impõe-se "uma mudança de mentalidade nos agentes políticos e económicos" do setor. "O talento, a paixão e a dedicação de algumas poucas centenas de pessoas que se entregam à atividade não basta", garante.

Já Nuno Amorim acredita que essas desvantagens poderão ser compensadas pelo estilo. "Estamos a desenvolver a animação ao nosso ritmo, que é bem próprio", justifica. "São importantes as referências, é importante não perder o foco do mercado se quisermos sobreviver enquanto setor, mas é também importante que nos destaquemos pela nossa singularidade", realça.

O diretor da Animais gostaria, ainda assim, de maior estabilidade na produção nacional: "O prato forte da animação portuguesa, excluindo o contexto dos videojogos que conhecemos mal, são as curtas-metragens de cariz mais autoral e experimental, de que resultam pequenas obras-primas com grande circulação e reconhecimento em festivais por esse mundo fora, mas cujo financiamento não permite alavancar estruturas de produção maiores nem manter grandes equipas no ativo. Essa é a maior dificuldade do setor e poderia ser suprimida caso houvesse um investimento maior tanto em curtas de animação, nomeadamente por parte das televisões, como em séries e longas-metragens".

Nos 25 anos de atividade da produtora Animais destacam-se filmes como: "Jantar em Lisboa" (2006), de André Carrilho; "Selo ou Não sê-lo" (2006), de Isabel Aboim; "Canto dos Quatro Caminhos (2014)", de Nuno Amorim; e "Chatear-me-ia Morrer Tão Joveeeeem" (2016), com que Filipe Abranches compete esta semana no Cinanima.

No currículo da Animanostra, por sua vez, Humberto Santana considera 'inesquecíveis': "A Maravilhosa Expedição às Ilhas Encantadas", uma série de 40 episódios produzida para a RTP; "Ginjas", a série distinguida com o Prémio ZON Criatividade em 2012; e ainda 'o sucesso absolutamente imprevisível' do filme com a canção "Todos os patinhos acabam de brincar".