A presidente (negra) da Academia que atribui os Óscares, Cheryl Boone Isaacs, que tem feito esforços para incentivar mais diversidade, tanto nas pessoas que podem votar como no que estas votam, já expressara a sua frustração com as nomeações dos Óscares, anunciadas a 14 de janeiro.

Agora, o realizador Spike Lee e a atriz Jada Pinkett Smith (esposa de Will Smith) anunciaram que não vão assistir à cerimónia dos Óscares a 28 de fevereiro.

A razão para o boicote é a ausência de filmes e atores negros entre os nomeados para os prémios da Academia.

Numa publicação no Instagram esta segunda-feira, dia em que se celebra nos EUA o feriado de Martin Luther King, o vencedor do Óscar honorário em novembro passado pergunta "como é possível que pelo segundo ano consecutivo todos os 20 candidatos na categoria de interpretação sejam brancos? E nem vamos entrar pelos outros grupos".

"Existe um momento em que uma pessoa deve tomar uma posição que não é nem segura nem política nem popular, mas que deve tomar porque a a sua consciência lhe diz que é a correta", acrescenta.

Ainda assim, o cineasta, que já no seu discurso de aceitação do prémio dissera a Hollywood que era melhor "ficarem espertos", reconhece que a Academia não pode determinar os filmes que são aprovados pelos estúdios.

"Na minha forma de ver, não é nos Óscares que existe a 'verdadeira' batalha. É nos escritórios dos executivos dos estúdios de Hollywood e nos canais de televisão e cabo. É aí que os Guardiões decidem o que é feito e o que é colocado em rotação [por outros estúdios] ou rejeitado. Pesssoal, a verdade é que não estamos nesses gabinetes e até as minorias lá estarem, os nomeados para os Óscares vão permanecer resplandecentemente brancos."

Já no sábado, Jada Pinkett Smith escreveu no Twitter que "nos Óscares, as pessoas de cor são sempre bem-vindas para dar prémios, até para entreter. Mas raramente somos reconhecidos pelas nossas realizações artísticas. Deveriam as pessoas de cor evitar participar de todo? As pessoas só nos podem tratar da forma que nós as deixarmos", antes de concluir a sua mensagem "com muito respeito no meio de uma profunda deceção".

Hoje, a atriz colocou um vídeo no Facebook onde desenvolveu as suas ideias e confirmou que não iria assistir aos Óscares.

Perguntando-se "se é a altura de as pessoas de cor reconhecerem quanto poder e influência acumularam e que não precisamos mais de pedir para sermos convidados para o quer quer que seja", sugeriu ainda que talvez seja a altura de existir um contraponto aos prémios.

"A Academia tem o direito de reconhecer quem quiser, de convidar quem quiser e agora acho que é a nossa responsabilidade de fazer a mudança. Talvez seja altura de remover os nossos recursos e colocá-los nas nossas comunidades e nos nossos programas e fazer programas para nós que nos reconheçam das formas que acharmos apropriadas, que são tão boas como as ditas 'mainstream'."

"Suplicar por reconhecimento ou até pedir reduz a dignidade e reduz o poder e nós somos um povo digno e somos poderosos e não nos devemos esquecer disso". acrescentou Jada Pinkett Smith.

"Portanto, deixemos a Academia fazê-los, com toda a elegância e amor, e façamos os nossos, de forma diferente. Não tenho mais nada do que amor", concluiu antes de desejar boa sorte ao anfitrião da próxima cerimónia dos Óscares, o negro Chris Rock.