Um caso de violação num casamento é dissecado ao detalhe no filme "Submissão", de Leonardo António, que se estreia na quinta-feira, expondo uma realidade que é "um tabu", disse o realizador em entrevista à agência Lusa.
"Submissão" é um filme de ficção, o segundo de Leonardo António, e relata uma situação de violação dentro de um casamento, denunciada pela vítima, mulher, e o consequente processo judicial contra o agressor.
O filme é protagonizado pela atriz Iolanda Laranjeiro, no papel de uma mulher que apresenta queixa contra o marido, por violação, que procura superar o trauma, numa associação de apoio à vítima, e que vê a intimidade do casamento exposta, e posta em causa, em tribunal.
O elenco do filme conta ainda com João Catarré, Maria João Abreu (1964-2021), Marcantónio Del Carlo e José Raposo nos principais papéis.
Em entrevista à agência Lusa, Leonardo António contou que a ideia do filme partiu de histórias que conhecia, de violência entre casais, e de casos de "descompensação, de perturbação, de pressão do foro da autoestima" relatados por um amigo, psiquiatra.
"É um filme sobre violência nas relações de intimidade. Pretende ser um filme que tem uma demonstração do que é um processo penal de uma vítima de violação. Mas na realidade é um filme para falar sobre intimidade, como as relações são construídas e como podem ser mal-entendidas. Não pretende oferecer soluções e dar respostas, é uma reflexão", resumiu Leonardo António.
A longa-metragem, escrita, produzida e realizada por Leonardo António, foi rodada em apenas 18 dias, tendo sido antecedida de mais de um mês de ensaios entre os atores, para afinar as cenas, em particular as que disseram respeito ao julgamento deste caso, que ocupam uma parte substancial do filme.
"Achei por bem, algures na minha carreira, fazer um filme que falasse de um casal. [...] De facto, conhecia sobreviventes e agressores, e nesse sentido falei muito tempo com eles e não se pode dizer que isso foi o início de uma pesquisa, mas foi o início de uma ideia. O que achei por bem partilhar, através de um guião, é a questão da ambiguidade, porque a maioria dos agressores estão arrependidos, a maioria dos sobreviventes chegam a um ponto na vida em que repensam o que podiam ter feito de diferente", disse.
Enquanto "Submissão" chega a 20 salas de cinema no país, Leonardo António finaliza um documentário "sobre as origens da violência" que tem andado a preparar desde 2015, defendendo a tese de que "a violência surge quando a identidade é ameaçada, seja individual seja em grupo".
Leonardo António, responsável pela editora Quattuor Pictures, é ainda autor da longa-metragem "O frágil som do meu motor" (2014).
TRAILER "SUBMISSÃO".
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