Segundo a informação divulgada pela organização, para o júri, o filme “é um retrato digno e importante na sociedade dos dias de hoje, de uma certa ‘melancolia do exílio’, que não explora o sofrimento dos intervenientes, mas que o expõe de forma justa e sem artifícios”.
A obra do realizador do Mali traduz um olhar para os interiores da Casa dos Migrantes, um espaço que acolhe refugiados na fronteira do deserto africano do Sahel.
Já a menção honrosa foi atribuída a “Beatrix”, de Lilith Kraxner e Milena Czernovsky: “Como se tratasse de uma performance de dança contemporânea do quotidiano, o filme apresenta-nos, através duma original abordagem pseudo-documental, à intimidade feminina crua.”
Na competição de cinema falado, o prémio foi atribuído a “Distopia”, de Tiago Afonso, com o júri a destacar “uma câmara que tanto faz crónicas como constrói uma comunidade de protesto, sem artifícios ou estetização”, à medida que mostra as mudanças ocorridas no Porto ao longo de vários anos, com um processo de gentrificação que expulsou vários grupos.
No entendimento dos jurados, o trabalho de Tiago Afonso – que venceu a competição nacional do DocLisboa - é “um testemunho da inquietação e das dores de quem vê a paisagem urbana e os seus modos de vida alterados de forma traumática”.
No que respeita à competição ‘transmission’, o prémio foi para “Nueve Sevillas”, de Gonzalo García Pelayo e Pedro G. Romero, por “retratar com maestria e olhar original o coração e alma de uma cidade, Sevilha”.
“Através das vozes, a música e os artistas que a escreveram, escrevem e reescreverão a história de um centro multicultural, cheio de contrastes e contradições que é parte essencial da cultura espanhola”, acrescentou o júri.
A menção honrosa nesta rubrica foi atribuída a “Karen Dalton: In my own town”, de Richard Peete e Robert Yapkowtiz.
“Uma guitarra, um banjo e uma voz inesquecível que o mundo precisa de conhecer. Um retrato de relações instáveis, de vícios e de pobreza da artista favorita de Bob Dylan. É imperioso que o legado e a genialidade de Karen Dalton chegue às novas gerações”, é sublinhado.
Já o Prémio Cinema Novo by Canal180 foi atribuído a “Fruto do vosso ventre”, de Fábio Silva, descrito como um “filme terno que coloca o espetador num lugar de desconforto”.
Considerou o júri que, “fazendo uso de materiais de arquivo, filmes e memórias familiares, o realizador enquadra e sobrepõe emoções, narrativa e experiências pessoais, num discurso de contenção de onde emerge uma voz autoral e original”.
O júri enalteceu a qualidade da seleção para a competição cinema novo, decidindo por unanimidade a distinção de “Fruto do vosso ventre”.
Quanto ao Prémio Arché by Companhia das Culturas/Fundação Pereira Monteiro, foi dado a “À procura da estrela”, de Carlos Martínez-Peñalver Mas, enquanto o Prémio Teenage foi atribuído a “Gabi, between ages 8 and 13”, de Engeli Broberg, pela linguagem “cinematográfica orgânica que envolve o espetador no caminho de descoberta e afirmação da identidade de uma criança, pela sensibilidade e inteligência com que a realizadora explora a temática da transexualidade e coloca a câmara na intimidade, autenticidade, inocência e maturidade da criança”.
O festival Porto/Post/Doc, que começou no dia 20 e termina no dia 30, regressou este ano ao formato presencial, apresentando quase 100 filmes em seis salas de cinema.
A 8.ª edição do festival expandiu-se por mais dois dias e duas salas, juntando aos espaços habituais - Rivoli, Passos Manuel, Planetário e Casa Comum - a Sala Estúdio Perpétuo, com um foco no novo documentário português e em sessões infantis, e ainda o Coliseu para o espetáculo de encerramento com a instalação de vídeo e performance musical “As filhas do fogo”, de Pedro Costa e os Músicos do Tejo.
Um dos destaques que a organização assinalou foi o filme-concerto “Maria do Mar”, de José Leitão de Barros, com a interpretação de Pedro Burmester e da Orquestra Sinfonietta de Lisboa, com a direção musical de Vasco Pearce de Azevedo, a partir da partitura de Bernardo Sassetti.
Este ano, o Porto/Post/Doc apresentou na competição internacional – a principal secção do festival - 10 longas-metragens em estreia nacional, “permitindo uma viagem por algumas das paisagens sociais e políticas contemporâneas”, lê-se no dossiê de imprensa.
O festival termina no dia 30 no Coliseu do Porto.
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