Joachim Trier, realizador de “Oslo 31 de Agosto” e “Ensurdecedor”, tem o seu mais recente trabalho estreado em Portugal, "Thelma", explorando dentro de um solene e meditativo drama adolescente as possibilidades dos artifícios do cinema de género – nomeadamente vindos do terror.
As sessões serão antecedidas pela curta-metragem “A Estranha Casa na Bruma”, vencedora da competição nacional da última edição do Motelx.
A obra assinada por Guilherme Daniel inspira-se num conto de H.P. Lovecraft e narra de forma atmosférica a trajetória de um peregrino que encontra abrigo numa casa sobre um penhasco.
"Body horror"
Por estas alturas os postulantes do cinema de autor andam fascinados pelas possibilidades visuais e viscerais de elementos de “body horror” – e “Thelma” é o mais recente da praça nas salas portuguesas.
Tendo como espinha dorsal a história da adolescente Thelma (Elli Harboe), uma tímida rapariga do interior que vai estudar em Oslo, Trier debruça-se ainda por outros caminhos do cinema de terror dos anos 70 – género com o qual cresceu. O resultado é uma peça com o ritmo de “Oslo 31 de Agosto”, mas com simbolismos que remetem para o fantástico.
À medida que a história avança, surgem ecos do vingativo paranormal de “Carrie”, sombras do sobrenatural sobre os gélidos exteriores de “Aquele Inverno em Veneza” ou da sumptuosidade de “Suspiria” e o uso de animais como cobras e pássaros agressivos.
Em termos temáticos, “Thelma” avança por questões como ortodoxia religiosa, super proteção familiar e o elemento “queer” – este explorado com notória sensualidade e usado como uma faísca potencialmente destruidora do mundo mental da protagonista.
Epilepsia psicológica
O filme abre com uma cena brutal: numa caçada, um pai desvia a arma do animal para apontar para a cabeça da filha de seis anos que, inocentemente, olha para a gazela à espera do tiro.
Uma elipse introduz o espectador no cenário onde se desenrolará parte da ação: o campus universitário de Oslo, onde ela agora estuda Biologia. Solitária e introvertida, presta contas diárias aos pais por telemóvel, parecendo uma adolescente rigidamente controlada por uma família religiosa e conservadora. Mas nem tudo é o que parece.
A situação dela agrava-se quando passa a ter vários episódios do que parecem ser ataques epiléticos, num quadro angustiante onde se revelam uma capacidade de desaparecer com pessoas “incómodas” ou comunicar-se com elas de forma “telepática”. Mais grave ainda é com começa a sentir uma forte atração pela colega Anja (Kaya Wilkins).
Segundo Joachim Trier, conforme entrevista a Collider, o grande terror de cada um é ter os seus piores defeitos fora de controlo.
Para além disto, o tipo de mal que parece afetar a protagonista, uma espécie de epilepsia despoletada por razões psicológicas, realmente existe. De acordo com o cineasta, pesquisas feitas junto dos médicos revelaram que, no caso de muitas adolescentes, a homossexualidade estava na raiz dos seus problemas de aceitação – o que terminou por trazer o elemento “queer” para o filme.
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