Com o título português de «A Toupeira», o thriller
«Tinker Tailor Soldier Spy» evoca mais a atmosfera de um quadro de Turner ou uma sinfonia de Mahler do que propriamente uma história do tipo James Bond.

Os que gostam da ação e muita adrenalina ficarão dececionados. Embora durante mais de duas horas, o espetador entre em contacto com a Guerra Fria e o embate entre os serviços secretos,
Tomas Alfredson, o realizador de
«Deixa-me Entrar», preferiu deixar-se guiar mais pelo tema central do livro - a «solidão, através dos personagens, que se afirmam pelas expressões, as atitudes e os cenários», - do que pela ação e os diálogos.

De Budapeste a Londres, passando por Istambul,
Gary Oldman, espião-mestre do MI16 e personagem central, aparece mais como um anti-herói que vai mergulhar no trabalho para descobrir um agente soviético, no momento em que se prepara para a aposentadoria.

O elenco é impressionante:
John Hurt,
Colin Firth e
Tom Hardy, cujos papéis se precisam à medida que a história complexa avança. Um filme de espionagem concebido «como um ensaio sobre o fato de ser homem e enfrentar o problema da solidão», explicou o cineasta em Veneza.

«Quando me pediram para fazer o filme, vi que não era possível realizá-lo se não encontrasse um fio condutor e, então, escolhi um tema», contou.

Luzes e objetos parecem escolhidos como as cores da paleta de um pintor. Um Citroën DS bege metálico aparece de forma recorrente, deslocando-se com a mesma lentidão da fumaça (que sai das lareiras) dos departamentos secretos, com o clima geral fazendo lembrar a melancolia de uma sinfonia de Mahler.

Os diálogos são reduzidos ao essencial e todas as personagens se deslocam como se estivessem em quadros dos grandes mestres, com as cenas nos primeiro, segundo e terceiro planos oferecendo as mesmas perspetivas de uma tela de Turner. Tomas Alfredson também disse à imprensa ter-se inspirado pela «pintura e a música» e «não apenas pelo cinema».

Foi uma oportunidade para os atores de «mostrarem alguma coisa a mais» em relação ao que o público está habituado, disse Gary Oldman, que vive uma personagem impassível e fria: «este filme permitiu-me apresentar alguma coisa de mim, diferente».

«A Toupeira» tem estreia em Portugal agendada para 8 de dezembro.

@AFP