A sexta longa-metragem da cineasta, que se estreia nos cinemas franceses a 18 de outubro, conta a história de Paméla, uma jovem portuguesa nascida em França, que se encontra dividida entre o amor incondicional aos pais e a Portugal e a vontade de forjar o seu próprio caminho.

"É uma forma de rutura suave com a infância, com uma certa cultura familiar e com a cultura dos emigrantes de regressar à aldeia no mês de agosto. Há uma forma de emancipação em relação à sua família, à sua cultura, à sua mentalidade", explicou à Lusa a realizadora e argumentista.

No filme, a cineasta retratou, nomeadamente, as férias de Paméla numa aldeia do Norte de Portugal, no verão, mas, desta vez, "a magia não aconteceu" e Portugal deixou de ser "aquela espécie de paraíso perdido".

"Para ela, Portugal é uma espécie de liberdade, de bem-estar. É o país das férias para esta geração e as férias não são a realidade, é uma vida um pouco entre parêntesis e ela idealiza-o. Nesse ano, ela vai e não consegue extrair-se dos seus problemas. Portugal não consegue operar essa magia", explicou a cineasta.

Laurence Ferreira Barbosa, que nasceu em França e cujo apelido português herdou de um avô que não conheceu, decidiu fazer um filme sobre os emigrantes portugueses quando se apercebeu que eles estavam pouco representados no cinema de ficção em França.

"A comunidade portuguesa em França não está representada, não há muitos filmes de ficção. Há um filme que toda a gente conhece - a ‘Cage Dorée' [‘A Gaiola Dourada'] - que é a primeira ficção sobre os emigrantes portugueses em França. Há os documentários do José Vieira, mas não vejo filmes de ficção que falem desta muito grande comunidade estrangeira em França", considerou.

O filme é produzido por Paulo Branco - como todas as suas longas-metragens - e recorre a atores não profissionais numa escolha "totalmente assumida" e que é descrita como "a essência do projeto" que partiu da ideia de fazer um documentário.

"A partir do momento em que decidi fazer um filme com a história de uma família portuguesa emigrada, não concebia a ideia de escolher atores profissionais porque soava falso. Queria que houvesse uma verdade, uma precisão e as pessoas tinham de ter uma forma de ser, sotaques, um homem moldado pela dureza do trabalho. As interpretações são imperfeitas e frágeis, mas isso agrada-me e é o que eu queria", contou.

Não foi fácil convencer os portugueses a entrar num filme e o casting foi "longo e difícil" porque são pessoas "de uma grande discrição, com medo de errar e com falta de confiança".

Em contrapartida, a realizadora deixou-se conquistar rapidamente pela protagonista do filme quando foi apresentar o seu projeto a uma escola, tendo acabado por se inspirar na vida e na personalidade da jovem Paméla Ramos para o argumento e para o título do filme.

“’Todos os Sonhos do Mundo’ é tirado da ‘Tabacaria’ de Fernando Pessoa. É uma frase que fica muito bem na personagem Paméla que vive com um sentimento de fracasso relativamente aos seus sonhos. Como no poema de Pessoa, ela não é nada, mas não pode querer ser nada. À parte isso tem nela todos os sonhos do mundo", justificou.

Laurence Ferreira Barbosa é autora de filmes como "Ou morro ou fico melhor" (2008), "Detesto o amor" (1996) - que passou na secção "Cinémas en France" do Festival de Cannes em 1997 - e "As pessoas normais não têm nada de especial" (1993), que recebeu uma menção especial do Prémio do Júri Ecuménico no Festival de Locarno e foi nomeado para um César de melhor primeiro filme.

A realizadora coassinou ainda o documentário "Volta à terra", de João Pedro Plácido, que passou na mostra da associação de cinéfilos ACID do Festival de Cannes em 2015, obteve o prémio Escolas/IADE para melhor longa-metragem da competição portuguesa no Doclisboa em 2014, o prémio Ulysse do documentário e o Prémio Estudante no festival de cinema de Montpellier Cinemed assim como o Prémio Gold Hugo do Chicago Film Festival em 2015.