"Foi completamente inesperado. Nunca pensei, achei que era impossível. Somos pequeninos, fizemos um filme com pouco dinheiro, sempre acreditaram em mim e estar aqui e ter ganhado o urso de ouro é uma coisa inacreditável", disse Leonor Teles em Berlim, após a cerimónia de entrega dos galardões.

A realizadora do filme "Balada de um Batráquio", que expõe comportamentos xenófobos em relação a membros da etnia cigana em Portugal, espera que a 'curta' ajude a desconstruir preconceitos relativamente a esta comunidade.

"Se formos a ver, os ciganos estão à margem da sociedade e provavelmente lá vão continuar. Acho que falar um pouco sobre eles pode ajudar", referiu, em declarações à agência Lusa.

O filme aborda a prática comum em Portugal do uso de sapos de cerâmica, por parte de lojistas e proprietários de cafés e restaurantes, de forma a evitarem a entrada nesses estabelecimentos de membros da comunidade cigana, que têm várias superstições ligadas ao animal.

Leonor Teles, que tem raízes ciganas por parte do pai, diz que o filme "não apresenta só uma problemática mas tenta, de certa forma, combatê-la", uma vez que a própria realizadora sentiu a "urgência" de destruir vários desses sapos em frente à câmara.

A cineasta sublinhou que o prémio também "representa o reconhecimento de um trabalho de dois anos, e de todas as pessoas que trabalharam no filme".

Os momentos que se seguiram à entrega do prémio foram de "loucura abissal", comentou a realizadora, acrescentando que, além de receber o urso de ouro, ainda teve a oportunidade de conhecer o ator Clive Owen.

"E não é todos os dias que se conhece o Clive Owen. Isso sim é um sucesso na vida", gracejou a cineasta.

No discurso de agradecimento do prémio, que recebeu com supresa, Leonor Teles foi intercalando frases em português e inglês, confessando nunca ter pensado que o filme "pudesse receber este prémio".

"Quando fiz este filme 'tosco, nunca pensei estar aqui [na Berlinale], quanto mais em prémios", dissera a realizadora em entrevista à Lusa, em Berlim, quando o seu filme ainda se encontrava em competição.

"O que eu quero é que as próximas sessões corram bem, que as pessoas gostem do filme e, se não gostarem, [que] venham falar comigo [para o] discutirmos", afirmou.

"No fundo, fazemos os filmes para eles serem vistos e não a pensar em prémios. Claro que os prémios são importantes e ajudam a um certo lançamento", confessou então à Lusa.

Este é o segundo filme de Leonor Teles que, em 2012, rodou "Rhoma Acans", também focado na comunidade ciagana em Portugal e que lhe valeu o prémio Take One, no Curtas Vila do Conde, em 2013.

Em 2012, João Salaviza foi distinguido com o urso de ouro nesta mesma secção do Berlinale, pela curta metragem Rafa.

A 66.ª edição da Berlinale, que termina no domingo, contou com a maior presença de sempre do cinema português no certame, com oito filmes de produção nacional, três dos quais na competição oficial, incluindo a longa-metragem "Cartas de guerra", de Ivo Ferreira, inspirada na correspondência de António Lobo Antunes.