Woody Allen anunciou que se vai reformar após o lançamento do seu próximo filme.
Em entrevista ao jornal espanhol La Vanguardia [acesso pago], o cineasta de 86 anos confirmou que "a minha ideia, em princípio, é não fazer mais filmes e forcar-me na escrita".
O projeto que se segue, acrescentou, será um livro de ficção.
Numa entrevista a Alec Baldwin no final de junho, o cineasta já tinha indicado que o próximo filme poderia ser o último pois "muita da emoção desapareceu" no atual mundo do cinema.
"Provavelmente, farei pelo menos mais um filme. Muita da emoção desapareceu. Quando comecei, fazia-se um filme e ia para um cinema e cinemas em todo o país, e as pessoas vinham às centenas para vê-lo em grandes grupos no grande ecrã. Agora, faz-se um filme e consegue-se duas semanas num cinema, talvez seis semanas, quatro semanas, seja o que for. E depois vai logo para streaming ou 'pay-per-view', e as pessoas adoram ficar sentadas em casa com os seus grandes ecrãs e vê-lo nos seus sistemas de televisão. Não é o mesmo.... não é tão agradável para mim", admitiu.
"Não tenho a mesma diversão ao fazer um filme e colocá-lo num cinema. Era uma sensação agradável saber que 500 pessoas o estavam a ver ao mesmo tempo. Não sei como me sinto sobre fazer filmes. Vou fazer mais um e depois logo vejo como me sinto", acrescentava.
Pela sua longa carreira, Woody Allen ganhou o Óscar de Melhor Realização por "Annie Hall" (1977) e recebeu 16 nomeações para Melhor Argumento (um recorde), ganhando três estatuetas por "Annie Hall", "Ana e as Suas Irmãs" (1986) e "Meia-Noite em Paris" (2010).
Após um invulgar tempo de espera para um cineasta que nos habitou a um novo filme praticamente todos os anos desde 1967, Woody Allen vai começar a produção do 50.º filme da carreira este mês de setembro em Paris, cujo título, que pode ser provisório, é "Wasp 22".
Descrito como um drama misturado com humor negro, nos moldes de outras suas películas como “Match Point” (2005), não existem informações sobre qual poderá ser a história ou o elenco, embora circulem rumores sobre um possível envolvimento da atriz francesa Isabelle Huppert.
Segundo a imprensa avançou em junho, houve um atraso na produção após o 'casting' "ter demorado mais tempo do que o esperado".
A razão para o atraso não era indicada, mas poderá ter pesado o óbvio "cancelamento" de Allen nos EUA: em 1992, foi acusado de ter abusado sexualmente da sua filha adotiva Dylan Farrow e apesar dos processos terem sido arquivados após duas investigações em separado, a sua imagem deteriorou-se quando esta renovou as acusações no início de 2018, após o movimento #MeToo.
Um artigo do "The Wrap" [acesso pago] de fevereiro de 2021 avançava que o consenso em Hollywood é que se tinha tornado demasiado radioativo e teria de encontrar financiamento para os filmes junto de investidores europeus "para o resto da sua vida". Também se referia que teria em convencer atores de renome no mercado americano a trabalhar consigo.
O seu filme mais recente, "Rifkin’s Festival" , juntava principalmente atores europeus como Elena Anaya, Louis Garrel, Sergi Lopez e Christoph Waltz, com Gina Gershon, Richard Kind e o colaborador habitual Wallace Shawn entre os poucos americanos no elenco
"É impossível que algum grande estúdio se vá relacionar com ele porque não vão conseguir atrizes para trabalhar com ele. A reputação do estúdio seria arrasada pelo #MeToo. Não vale a pena. Neste momento, com a 'cultura do cancelamento', ninguém vai arriscar", resumia um produtor.
O responsável de uma distribuidora que já lançou um filme do realizador nos EUA reforçava esse ponto de vista: "Estamos na cultura do cancelamento e ninguém se quer arriscar. Acho que ninguém vai querer. Woody Allen é tecnicamente inocente, não fez nada de errado, mas agora estamos num mundo onde se é culpado até que se prove a sua inocência”.
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