Baseado no romance “The Breadwinner” de Deborah Ellis, "A Ganha-Pão" é a história de resiliência e coragem de Parvana, uma jovem afegã disposta a tudo para salvar a sua família.

Numa sociedade em que as mulheres não têm rosto ou voz, não lhes é permitido andar nas ruas, pois chamam a atenção sobre si, Parvana torna-se o único sustento da mãe, irmã mais velha e irmão bebé, quando o pai, um pensador liberal, é aprisionado injustamente.

Fazendo-se passar por um rapaz, Parvana percebe que pode trazer mantimentos para casa e aventurar-se nas ruas. Numa terra onde as personagens são desenhadas com crueza da desgraça e dos horrores da guerra, os olhos verdes safira de Parvana experimentam algo totalmente novo. Vagueia por um presente austero, onde a cidade é registada com um naturalismo monocromático tom de mel e a modernidade não se revela, a não ser pelas minas terrestres e os tanques de morte. Um mundo de portas abertas, guloseimas, de liberdade camuflada.

Mas os perigos rodeiam-na e enquanto os céus ficam mais agitados com a turbulência dos jatos militares, o tempo para libertar o pai começa a escassear.

O estilo gráfico arrojado com base documental, não atenua a dor da narrativa de "A Ganha-Pão". O menosprezo, as ofensas e os espancamentos brutais acontecem e enraivecem, pois parecem-nos algo deslocados na magia e inocência da animação.

Para tecer um comentário encorajador, a realizadora Nora Twomey entrelaça uma segunda narrativa, onde um passado místico celebra a cor e se torna um refúgio para a prosperidade e crença num futuro melhor.

Parvana, depois do seu dia na cidade, retorna a casa e conta ao irmão mais novo uma alegoria. Neste conto folclórico, cujo estilo simula animação de recortes com movimentos mais toscos e uma linguagem cómica, um rei elefante aterroriza uma aldeia, roubando as colheitas. Um só rapaz tem então de salvar os seus e enfrentar a criatura de chifres.

Com o seu próprio conto, Parvana irá condensar a sua coragem interior e expandir as forças à família, não desistindo e preenchendo as ruas de Cabul com o seu humor, determinação e espírito positivo. Atrás de si, mãe e irmã mais velha irão lutar pelo seu lugar num clímax poderoso.

De mensagem pungente, mas não gratuita, "A Ganha-Pão" é motivador e alegre na sua contenda. Para um filme de premissa negra e derrotista, saímos do cinema inspirados e crentes na bondade humana.

"A Ganha-Pão": nos cinemas a 5 de setembro.

Crítica: Daniel Antero

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