Baseado no romance homónimo de Ann Patchett, "Bel Canto", de Paul Weitz, é um filme de cerco e reféns, que concentra em si uma história de amor.

Por sua vez, o livro é inspirado na crise ocorrida no Peru em 1996, quando o Movimento Revolucionário Túpac Amaru invadiu a residência do Embaixador japonês e fez refém vários diplomatas, membros do governo e empresários. Após quatro meses de negociação de fachada, as Forças Armadas Peruanas tomaram a casa de assalto e mataram todos os militantes.

O filme espelha alguns eventos desta situação hostil, mas foca-se principalmente na conexão humana e na capacidade de reconhecermos as diferenças, desenvolver empatia e amor, mesmo em circunstâncias de horror e sacrifício.

Julianne Moore é Roxane Coss, uma famosa soprano, e Ken Watanabe interpreta o magnata industrial japonês Hosokawa. São o par que se apaixona após uma festa privada ser invadida por rebeldes e o veículo de marketing deste filme, mas também o que menos interessa pois o seu talento é desperdiçado.

"Bel Canto" é uma narrativa multilingual onde Paul Weitz explora as subtilezas das traduções e do esforço de se comunicar o que se sente, através de um fluído "ensemble" de actores: o alemão Sebastian Koch, como negociador suíço; María Mercedes Coroy, que fala kaqchikel; os restantes militantes de um país fictício da América do Sul, que falam espanhol; e o japonês Ryo Case, um verdadeiro poliglota como tradutor de Hosokawa e a personagem que devia ter tido a principal história.

Mas é outra linguagem que prevalece na união destas duas fações: a música, mais concretamente a ópera, que no seu registo poderoso e cristalino serve como elemento catártico para a pureza de sentimentos e comunicação de valores.

Paul Weitz desliga-se do resgate dos reféns, focando-se no desenvolvimento do Síndrome de Estocolmo pelas duas facções, pois enquanto o tempo passa, os ideais vão-se esfumando e reduzindo-se às necessidades primárias de um grupo de pessoas preso numa mansão. Amor, camaradagem e alegria vão energizando todos os que se aguentam no cerco.

Apesar de repleto de boas intenções, moral e algum surrealismo de comportamentos, Weitz não nos consegue prender na tensão ou na surpresa, aborrecendo-nos, sem capacidade narrativa de fazer o tempo passar e de mostrar a evolução das personagens.

"Bel Canto" podia ser uma representação de uma idílica utopia que nos envolvia até um horrível final, mas não é mais do que uma máscara embelezada sobre algo frágil e mal concebido... como o sincronismo da voz da soprano Renée Flemming sobre a interpretação de Julianne Moore.

"Belcanto": nos cinemas a 8 de novembro.

Crítica: Daniel Antero

Saiba mais no site Cinemic.

Trailer: