A HISTÓRIA: Dois irmãos elfos fazem um feitiço para trazer o pai de volta à vida, mas só recuperam as pernas e a cintura. Ian e Barley partem numa demanda pela pedra que permite repetir o feitiço, num mundo que se esquece de que a magia existe.


Crítica: Filipa Moreno

No dia em que faz 16 anos, Ian Lightfoot escreve uma lista de objetivos de vida. “Ser mais como o pai”, que morreu antes que pudesse conhecê-lo.

Por sorte, o pai deixou-lhe e ao irmão Barley um kit mágico para fazerem um feitiço que o trará de volta. Só que o feitiço corre mal e só regressam as pernas e a cintura.

Ian - um adolescente que só quer coisas normais como ter amigos - e Barley - um metaleiro em pausa sabática que é perito nos jogos ao espírito de "Dungeons & Dragons" - acabam a arrastar um par de calças por todo o filme enquanto procuram uma pedra que permita a Ian conhecer o pai.

Cruzam-se com demasiadas personagens e situações. Há dragões domésticos e dragões de pedra, o centauro/namorado da mãe/polícia, fadas motoqueiras, uma carrinha arraçada de cavalo, longas travessias dentro de uma caverna em cima de uma batata frita… É uma amálgama de personagens e acontecimentos, agitação e gritos.

Mas é quando tudo isso sossega que a Pixar cumpre o que faz melhor. No meio da confusão, mostra dois adolescentes em transição interior, como em “Divertida(mente)”. Revela a força da empatia e da bondade, como em “Up - Altamente”. E reafirma a força dos laços familiares, como em “Coco”. Porque nem todas as famílias têm de ser iguais para serem felizes.

Isso chega para resgatar “'Bora Lá”? Chega, sim. Porque a força dos momentos emotivos arrebata-nos de surpresa. Afinal, este é um conto sobre dois irmãos que, na ausência do pai, se encontraram um no outro.

Gostávamos que a magia fosse mais subjetiva, mas Dan Scanlon (realizador e um dos argumentistas) entendeu que devia carregar este filme com ação. Talvez compensando a falta de carismas dos protagonistas… Talvez piscando o olho a um público saturado pelo segundo “Frozen - O Reino do Gelo”… Talvez evitando que a sua própria história em comum com a de Ian eclipsasse tudo o resto.

Provavelmente, “'Bora Lá” não será um campeão de bilheteiras. Mas é uma aposta segura para os pais que entregam as suas crianças nas mãos da Pixar, certos de que estarão a dar-lhes mais uma lição sobre aquilo que verdadeiramente importa.

"'Bora Lá": nos cinemas a 5 de março.

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