A HISTÓRIA: Quando criaturas monstruosas, os Deviants, há muito tempo dadas como extintas, regressam misteriosamente, os Eternals (Eternos) são forçados a reunir-se para, mais uma vez, defender a humanidade.

"Eternals (Eternos)": nos cinemas a partir de 4 de novembro.


Crítica: Hugo Gomes

Após a experiência de ver "Eternals (Eternos)", conseguimos perceber a marca deixada por Chloé Zhao neste novo “épico por entre tempos” da Marvel e do seu Universo Cinematográfico sob a custódia da Disney: os cenários falam por si e está aqui aquela desolação imensa que reduz as personagens e os seus problemas a nada (e, ao mesmo tempo, a tanto) perante a dimensão do Mundo.

Mas a realizadora aqui é exatamente isso - estética - porque a identidade transparente de vários filmes que culminou no oscarizado “Nomadland” [crítica] é traída pela força da máquina de produção Marvel. O espectro fica e engana-nos com a sensação de autoralidade inexistente. E nem se pode dizer que a culpa seja dela, mas antes do sistema de Hollywood em que surge inserida e a coloca como refém de uma empresa gigantesca e do seu projeto megalómano de fecundar e continuar um universo povoado de heróis e vilões.

Fora das lamentações autorais e artísticas, "Eternals (Eternos)" poderá ser aos olhos dos fãs um rebaixamento completo do Universo Marvel pois é um pastelão de duas horas e meia de personagens atiradas ao pontapé para conquistar um espaço que não lhes pertence.

Era uma aposta arriscada, mas não inglória, a de trazer à vida do cinema estas figuras secundárias e desconhecidas para muitos comuns dos mortais espectadores, apenas devidamente reconhecidas pelos fãs mais entranhados em tudo o que é Marvel. Para compensar, juntou-se um elenco estrelar, diversificado e aclamativo (Angelina Jolie a desafiar o seu “star power”) e a seguir segue o resto: os valores de produção, o CGI sem falhas aparentes, as sequências de ação movidas pela tecnologia que confirmam que tudo é agora possível, acrescidos da exaltação do romantismo e moralismo em vésperas do Armagedão.

Portanto, "Eternals (Eternos)" é e não é um filme de Chloé Zhao. Eis um objeto convencional e convencido da sua complexidade (e vencido por ela), mas que constatamos com o tempo que é mais presunção no meio dos clichés de uma narrativa que praticamente se resume a "flashbacks" atrás de "flashbacks", tendo como brinde... mais "flashbacks".

Tudo isto é visualmente bonito? Sim, mas insuflado, automatizado e, pior de tudo, sem alma e sem personagens. Apenas uma "prova dos nove" para quem está habituado e se queixa do “mais do mesmo” da Marvel, aqui a testar a profunda devoção dos seus fãs.