Faz-me Companhia
A HISTÓRIA: Sílvia aluga uma casa para o fim-de-semana no sul de Portugal com a intenção de se encontrar com a sua amante secreta, Clara. Entre mergulhos na piscina e banhos de sol, o fim-de-semana perfeito a dois começa a ser perturbado por um mal misterioso. Estranhos eventos ocorrem na casa que terão um impacto permanente na relação e na vida das duas mulheres.
"Faz-me Companhia": nos cinemas a 2 de julho.
Crítica: Hugo Gomes
Todas as novidades portuguesas no cinema de género são (e serão) sempre bem-vindas, nem que seja para incentivar a diversidade, visto que, na grande maioria dos casos, não abunda nem temática, nem estética, nem mesmo inventividade.
No universo fantástico/terror, estes exercícios (ou exorcismos) parecem ainda não ter encontrado uma apetecível emancipação perante a saturação de ideias. Desde as tentativas semi-falhadas de António Macedo ao ainda notável “Coisa Ruim”, pouco evoluímos. Fora as curtas-metragens às voltas dos moldes de protótipo e o culto garantido à Troma de “Mutant Blast” ou do esforço de “A Floresta das Almas Perdidas”, ainda não conseguimos reativar uma fórmula ou ter uma equação própria.
Este esmiuçar histórico não é mais que um ritual de higienização de um patologista pronto para dissecar o seu “cadáver”, “acabadinho” de chegar à "mesa de autópsia": o "corpo" é “Faz-me Companhia”.
Este é o título prometedor de um realizador, Gonçalo Almeida, que se aventurou no círculos das curtas-metragens com algum êxito – “Thursday Night” (premiado em Austin e no MOTELx) – e que prossegue agora em força num formato ainda maior e com abordagens escassas e, em certa parte, ingratas no panorama do cinema português.
Porém, nem sempre os riscos compensam: com o azar de chegar aos cinemas ainda embrulhados no medo e histeria próxima da pós-pandemia, esta longa-metragem é um mero casulo oco, esvaziado por uma doença prolongada e crónica.
Isto para dizer que "Faz-me Companhia" não se orgulhou da sua natureza: cinema de terror. Portanto, a sua vida foi efémera e a morte prematura, mesmo que não possamos negar que o "corpo" que nos chega encontra-se aparentemente em bom estado, graças à "maquilhagem" autodidata de uma estética artificializada que disfarça as profundas feridas causadas por acidentes de percurso.
No nosso relatório legista estas foram as causas da morte: falta de espessura, uma conceção contemplativa sem garra, ideias cansadas, redução de duas atrizes que já mostraram melhor (Cleia D’Almeida, de “Sangue do meu Sangue”, e Filipa Areosa, de “O Sintoma de Ausência”, ao lado da ascendente Mia Tomé) a meros fantoches cadavéricos sem qualquer química uma com a outra (nota-se a falta de direção e emotividade nos diálogos rudimentares). E, fatalmente, uma inexistente perícia na construção atmosférica.
Como filme de terror, "Faz-me Companhia" simplesmente não funciona. Gonçalo Almeida teve receio de sujar as mãos e ficou pelas aparências. O resultado é totalmente inglório e frustrante. Vai ser preciso um grande trabalho de tanatopraxia [a arte de preparar os defuntos] para fazer a cerimónia de caixão aberto.
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