Como estas selecções são sempre discutíveis, enviem-nos também as vossas escolhas. Queremos saber quais foram os vossos singles, discos nacionais, discos internacionais e concertos preferidos de 2010 (três escolhas por categoria).

Além dos discos nacionais, já revelámos também os nossos singles preferidos. Mas voltando aos discos, cá estão eles (por ordem alfabética):

Balla - «Equilibrio»

Armando Teixeira voltou a dar cartas na música nacional. Depois de «Balla» (2000), «Le Jeu» (2003) e «A Grande Mentira» (2006), a banda regressa com um som muito mais electrónico, reflectido no tema “Montra” e “Equilibrio”. É o estilo camaleónico de Armando que permite que cada um dos seus trabalhos seja sempre surpreendente. Samuel Úria, Liliana Correia e Luís Varatojo juntam as suas vozes em temas fortes do disco. Consistente do início ao fim, é um álbum construído para ser tocado ao vivo. Valeu a pena esperar quatro anos pela nova criação de Armando Teixeira. IA

Bernardo Sassetti Trio – «Motion»

A ligação de Bernardo Sassetti ao cinema por via das bandas sonoras não é recente. Ainda este ano juntou “Como Desenhar Um Círculo Perfeito” ao brilhantismo de “Um Amor de Perdição” ou “Alice”. É por isso natural que “Motion”, em que se faz acompanhar por Alexandre Frazão e Carlos Barretto, nos traga esse sentimento cinematográfico, que o pianista traduziu na sua primeira incursão nas curtas metragens. Seja como for, bastava aquela versão de “Homecoming Queen” do falecido Mark Linkous (Sparklehorse) e o regresso ao catalão Federico Mompou para fazer deste um dos álbuns do ano. LS

Deolinda - «Dois Selos e um Carimbo»

Os últimos dois anos viraram a Deolinda (ou os Deolinda) do avesso. Sorrateiramente, em 2007, o primeiro tema saiu numa compilação de novos talentos e, no ano seguinte, o primeiro álbum foi lançado. O disco «Dois Selos e um Carimbo» sucedeu a «Canção ao lado» e entrou directamente para o top de vendas. Um novo turbilhão de personagens, melodias, narrativas e humor à portuguesa que fazem dos Deolinda um projecto de sucesso. Mesmo lá fora, com o Prémio Revelação atribuído pela revista inglesa de World Music, Songlines. VM

Guta Naki - «Guta Naki»

Cátia Pereira, Dinis Pires e Nuno Palma atiram-se à electrónica com a mesma naturalidade com que aceitam influências do fado ou do tango. Ensaiam um sinfonismo bucólico mas também mergulham num rock cortante com contornos industriais. Forram tudo com letras cantadas em português (tirando um tema também em castelhano), devidamente condimentadas com personalidade e algum atrevimento. E aguentam este embalo com segurança e entusiasmo ao longo de dez canções. Na sua estreia homónima, os Guta Naki inquietam, seduzem e no final deixam-nos descansados: a nova pop portuguesa está em boas mãos. GS

Lula Pena – «Troubadour»

Lula Pena esteve doze anos sem editar um disco. Este regresso em sete actos não podia ter nome mais apropriado, assumindo-se a autora como viajante da música popular no verdadeiro e original sentidoda palavra. Não estamos a falar da pop como espectáculo fácil para agradar ao maior número de pessoas possível, mas sim de percursos sonoros entre tradições musicais (a portuguesa claro, mas mais que isso ibérica, latino-americana, europeia) onde a originalidade se funde com o reconhecimento das raízes. Se calhar demora doze anos até chegar ao brilhantismo deste disco. LS

Mão Morta - «Pesadelo em Peluche»

Os Mão Morta celebraram 25 anos com a reedição dos primeiros discos, uma maratona de concertos e... um novo álbum. Em "Pesadelo em Peluche", a banda de Braga cortou com as canções mais atmosféricas dos últimos anos e apostou num alinhamento à medida do clássico "Budapeste": sempre a rock n' rollar. Os palcos acolheram sem reservas estes temas curtos e directos mas, curiosamente, um dos momentos mais celebrados foi "Tiago Capitão", um raro episódio contemplativo. "Vamos em frente, olho por olho, dente por dente", canta Adolfo Luxúria Canibal a provar que a atitude dos Mão Morta não mudou: continuam obstinados e não fazem prisioneiros. GS

Nobody’s Bizness - «It’s Everybody’s Bizness Now»

Os Nobody’s Bizness formaram-se em 2003. Seis amigos e colegas que dedicavam o seu tempo e talento a revisitar clássicos do blues. Este ano decidiram arriscar mais um pouco. Em doze músicas, seis são originais e aquilo que a ninguém dizia respeito, passa a estar debaixo de um olhar atento. Fiel ao som do blues tradicional, «It's Everybody's Bizness Now» é um álbum equilibrado e marcado pela boa disposição. A ouvir com atenção: “Time Waster”, o primeiro original do álbum, e “When the Lights Go Out”, um clássico de Willie Dixon na voz de Petra Pais. IA

Orelha Negra - «Orelha Negra»

A reunião de Sam the Kid, Fred (Buraka Som Sistema), João Gomes (Cool Hipnoise), Francisco Rebelo e DJ Cruzfader deu origem a um dos álbuns mais originais e inspirados de 2010. Em busca de novas sonoridades alternativas, o quinteto reinventou sons de outrora, numa criação onde o funk, groove e soul convivem de forma coesa e harmoniosa. Quase viciante em canções como “A Cura” ou “Blessed”. Mais do que a mera soma das partes, o conjunto foi uma lufada de ar fresco tanto em disco como nos muitos (e bons) concertos que ofereceu este ano. JG

peixe : avião - «Madrugada»

Há clichés que ainda não desapareceram, e ainda bem: "40:02", há dois anos, foi a promessa que "Madrugada", o segundo disco dos peixe : avião, veio entretanto confirmar. Não foi um salto de gigante, mas aprimorou a matéria-prima que já intrigava no registo de estreia do quinteto bracarense. Manuela Azevedo e Bernardo Sassetti surgem como convidados de um álbum que, felizmente, não precisa da caução de terceiros para convencer. Sobretudo quando os ambientes viscerais ganham aos mais abstractos, como em "Mudar de Ideias". Se o próximo disco seguir por aqui, o salto poderá ser ainda maior. GS

Rita Redshoes - «Lights and Darks»

«Lights and Darks», o segundo (aguardado) disco de Rita RedShoes foi um dois em um: a par dos 14 temas que compõem o registo, 13 curtas-metragens assinadas por autores como David Fonseca ou Paulo Furtado (The Legendary Tigerman). Rita confessou na altura o bloqueio vindo da pressão de fazer um segundo disco, mas resolveu bem o dilema. Um álbum sólido que a afirma como compositora, ainda com as referências à cultura norte-americana, tanto na sonoridade como nas letras. VM