Os Memória de Peixe regressam hoje aos discos com “III”, um álbum “luminoso”, com uma “mensagem pacificante”, que “faz falta ouvir agora”, quando o mundo enfrenta mais uma "época desafiante".

O projeto, iniciado há 13 anos pelo guitarrista Miguel Nicolau, apresenta-se agora como um trio, que fica completo com o baterista Pedro Melo Alves e o baixista Filipe Louro.

Agora com três elementos chega o terceiro álbum do projeto, cujo título só poderia ser “III”, um disco que “não é político”, mas no qual “há uma consciência político-social”.

Pedro Melo Alves, em entrevista à agência Lusa, fala em “III” como “um disco que traz luz numa época desafiante, numa época que precisa bastante de luz”.

“É um disco muito luminoso, que traz uma mensagem pacificante, agregadora, de estabelecer outra vez laços, comunidade, calor, amor pelo próximo. É para agora, é pertinente, faz falta para agora, faz falta ouvir agora”, disse.

O álbum apresenta “música necessária” em onze temas, um dos quais, “Peacemaker”, Pedro Melo Alves quer acreditar que “tem esse efeito apaziguador, para trazer uma mensagem de Paz”.

“Estamos a fazer música de uma forma intuitiva, natural, a falar sobre as nossas preocupações, mas também há uma vontade em explorar, dentro do nosso universo, as temáticas que nos rodeiam, nomeadamente fazer pazes no meio do caos”, acrescentou Miguel Nicolau.

As músicas que compõem “III” acabam também por espelhar um período de reflexão que Miguel Nicolau atravessou sobre o futuro de Memória de Peixe.

“Um período de reflexão, de reconstrução, deste encontro com o Pedro [Melo Alves], que nos fez ter muita vontade de explorar novos caminhos e novos horizontes, musicalmente e imageticamente, conceptualmente. E acabámos por fazer música de uma forma muito conceptual, a pensar em imagens, a pensar em ideias”, referiu.

Miguel Nicolau e Pedro Melo Alves pensam o mundo da mesma forma e partilham muitas referências estéticas e cinematográficas.

“Apesar de haver diferenças, sentimos que havia muitas áreas em comum e isso foi o motivo para começarmos a abordar, de forma natural e espontânea, aquilo que nos preocupava enquanto pessoas”, partilhou Miguel Nicolau.

créditos: Anna Bobyrieva

Os dois primeiros álbuns de Memória de Peixe foram criados e editados em duo: em 2012, “Memória de Peixe” com o baterista Nuno Oliveira e, em 2016, “Himiko Cloud” com o baterista e pianista Marco Franco.

Mas ao terceiro álbum, o trio “acabou por surgir naturalmente, pela expansão de possibilidades”.

O guitarrista Norberto Lobo chegou a ser o terceiro elemento do projeto, antes da chegada de Filipe Louro, algo que está presente em “III”.

“A gravação do álbum reflete as várias versões intermédias que foram acontecendo desde que o disco começou a ser desenhado. O Norberto [Lobo] faz parte do disco, chegou a integrar a fase da composição, há composições dele, e também da gravação”, contou Pedro Melo Alves.

No tema “Under the sea” chega mesmo a cantar. “Há um improviso em que o Norberto está a cantar e acaba por ser essa a voz que se ouve na música. Um contributo incrível que ele acabou por dar ao disco”, referiu o baterista.

Miguel Nicolau recordou que “há uma inclusão maior da palavra neste disco, mas a palavra ao mesmo tempo é muito imagética, no sentido em que o poema transmite uma imagem”.

No álbum participam também o saxofonista José Soares e alguns músicos de câmara, estes últimos no tema “Good Night”, que encerra o álbum e é uma espécie de resumo de “III”.

“Da mesma forma que o disco tem toda esta componente visual, cinematográfica e que nos leva em várias viagens com diferentes conceitos, sentimos que ao longo do álbum acontece uma viagem e este tema é como que um compêndio, um resumo, uma súmula de todas as viagens pelas quais passamos durante a escuta do álbum”, explicou Pedro Melo Alves.

O tema “é um compêndio com excertos de todas as composições que contemplam o disco” e Pedro Melo Alves escreveu-o “para uma versão alternativa da banda, em formato de Música de Câmara – um quarteto de cordas, sopros, harpa”.

“Achámos que era um reconforto ter esse ponto de destino para refletir sobre tudo aquilo de que se falou, pensou e sentiu no álbum, só que em versão de universo paralelo. Daí não ser com a banda, mas conter toda a composição da banda”, referiu.

O grupo realizou uma série de concertos de pré-apresentação do disco em dezembro, em clubes, para marcar o regresso da banda aos palcos, “renascer das cinzas, voltar a criar laços, contactar o público”.

“Estes concertos refletem a necessidade que foi voltar ao ativo. Voltar a colocar Memória de Peixe no ativo”, disse Miguel Nicolau.

O músico partilhou que “está a ser um momento muito bonito de regresso, especialmente nesta altura do mundo”.

A apresentação de “III” ao vivo está marcada para 16 de abril em Lisboa, na Culturgest, e os músicos prometem “uma espécie de cine-concerto, com recurso a vídeo e cenografia”, que contará com a participação de João Hasselberg, nos teclados e sintetizadores, e Bernardo Tinoco, no saxofone.

O álbum é editado hoje em formato digital e será depois disponibilizado em vinil e cassete. Haverá uma pré-venda dos formatos físicos no 'site' oficial dos Memória de Peixe, que fica ‘online’ a partir de hoje.

Os Memória de Peixe estão nomeados para os PLAY – Prémios da Música Portuguesa na categoria de Melhor Videoclipe, com o vídeo de “Good Morning”, um dos temas de “III”, e estão incluídos no cartaz do festival Paredes de Coura.