O Soho londrino, bairro historicamente liberal, abriga mais lojas de roupa que sex-shops - embora as suas ruas estreitas tenham impedido o avanço de grandes redes como a Zara -, assim como algumas lojas de discos que atraem fãs do vinil. Alguns são colecionadores, outros nunca se adaptaram ao som digital e outros procuram uma experiência nova.

A Sounds of Universe, em Broadwick Street, é um desses espaços e tem uma boa clientela de discos de vinil. "Sempre tivemos compradores", afirma à AFP o vendedor Neal Birnie. "Amam o som, a capa, sentem que estão a comprar algo mais especial. É mais real do que comprar uma canção em MP3 pela internet", explica.

As vendas de discos de vinil atingiram neste ano o maior nível numa década na Grã-Bretanha, com 550 mil LPs vendidos, segundo o BPI, organismo da indústria musical britânica. Caso o ritmo de vendas seja mantido até ao fim do ano, o resultado pode superar 700 mil álbuns vendidos, o melhor resultado desde 2001. O formato continua a ser minoritário no mercado (0,8% do total de vendas), mas cada vez mais artistas recorrem ao LP. Daft Punk, David Bowie, Arctic Monkeys, Paul McCartney, Pearl Jam, Arcade Fire e os Pixies lançaram os álbuns mais recentes em vinil. "Estamos a assistir a um renascimento dos discos, não se trata de nostalgia e sim de um formato que os fãs preferem cada vez mais", disse Geoff Taylor, diretor do BPI.

No fim do século XIX, Emile Berliner inventou os primeiros discos que armazenavam som e que substituiriam os cilindros. Os materiais foram evoluindo até ao vinil e so eu domínio prosseguiu até meados dos anos 1980, quando surgiu o compact disc.

Poucos anos depois chegariam os arquivos descarregados pela internet, os MP3, um formato intangível e com carências que decepcionaram alguns. "O MP tem apenas 5% da informação presente na gravação original", afirmou Neil Young em 2012. "Steve Jobs", fundador da Apple que morreu em 2012, "era um pioneiro da música digital e o seu legado é incrível. Mas ao chegar em casa ouvia música em vinil", completou o músico.

Os colecionadores também têm um papel importante na preservação do vinil. Na Reckless Records, outra loja do Soho, uma edição rara de "Masters of Reality", dos Black Sabbath, custa 400 libras. Uma edição tripla de "Mellon Collie and the Infinte Sadness", dos Smashing Pumpkins, custa 225 libras, enquanto que as primeiras edições de singles dos Beatles e dos Rolling Stones são negociadas a 80 libras.

As lojas de segunda mão administradas por organizações de caridade, uma verdadeira instituição britânica que possibilita encontrar de sapatos a livros, se tronaram local de pesquisa para os fãs. "Temos quase 20 pessoas que procuram vinil que eu reconheceria. Vêm pelo menos uma vez por semana, às vezes mais", disse à AFP Steve Kelly, gerente da loja da Oxfam no bairro de Dalston.
"Como dependemos de doações, o nosso stock varia, mas normalmente costumamos ter quase 1000 discos de vinil", acrescentou Kelly.

Os Soulwax, duo formado pelos irmãos e DJs belgas Dave e Stephe Dewaele, participaram recentemente numa festa em Londres na qual usaram apenas vinis comprados nestas lojas. Mas este foi um caso excepcional, segundo Christov Brilliant, DJ francês com base em Londres. "Nenhum grande DJ usa vinil. Suponho que seja moda, um desejo de voltar ao passado. Apesar de soar muito bem, vivemos num mundo digital e isto oferece grandes possibilidades", disse à AFP.

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