![Alive!10, dia 1: A frescura dos Faith No More e das novas sensações indie](/assets/img/blank.png)
Cerca de 38 mil pessoas passaram pelo recinto do Optimus Alive!10 no primeiro dia, aponta a organizadora do evento, Everything is New. Mas quem esteve num dos quatro palcos do festival, o Super Bock, talvez tenha pensado que o número seria ainda mais elevado, pelo menos a julgar pela impressionante corrida aos concertos de La Roux, The xx ou Florence + the Machine.
Os cabeças-de-cartaz do dia, no entanto, foram os Faith No More, que regressaram a Portugal quase um ano depois da última visita (ocorrida no último Sudoeste) e fecharam a noite do Palco Optimus, o maior do festival.
E mostraram-se justos detentores dessa honra, mesmo que outros concertos do dia tenham conseguido ombrear com o seu.
Como se esperava, a banda norte-americana foi recebida por muitos e terá desiludido poucos. E grande parte do mérito pertenceu a Mike Patton, vocalista e mentor do quinteto que nunca deixou espaço para qualquer suspeita de tédio durante quase duas horas.
As canções por si só já ajudavam, sobretudo porque o alinhamento revisitou alguns clássicos do grupo - "Last Cup of Sorrow", "Ashes to Ashes" ou "Midlife Crisis" foram alguns dos momentos apoteóticos. Mas foi a presença fortíssima do carismático vocalista que acabou por dar mais pontos à actuação, aliando sentido de oportunidade e de humor e ao qual se juntou, claro, uma evidente voz de excepção - do falsete mais rebuscado ao rugido mais visceral, Patton atirou-se a todos os extremos sem tropeçar.
Dirigindo-se aos espectadores em várias ocasiões e sempre em português, brincou com palavrões, com o público e com os seus colegas de banda, dedicou canções ao futebol português e a Cristiano Ronaldo (também em tom jocoso) e não resistiu a um episódio de crowd surfing (no qual quase ficou sem um sapato).
"Evidence" teve direito a uma versão em português - e a pronúncia abrasileirada quase transformou o Alive!10 no Delta Tejo durante uns minutos - e ajudou a alargar a versatilidade de um alinhamento feito de contrastes - onde coube o crooning de "Easy", a trepidação de "The Gentle Art of Making Enemies", o tranquilo instrumental "Midnight Cowboy", o rock brumoso e sinfónico de "Stripsearch" ou o tom lounge de "Caralho Voador", no segundo e último encore. Muitos podem ter ido ver os Faith No More pela nostalgia, mas mesmo sem material inédito a banda - e em especial o vocalista - mantém uma frescura que mereceu cada aplauso.
Palco Super Bock com a nata do indie britânico
Também a justificar os aplausos - e foram tantos! -, os britânicos La Roux estrearam-se em Portugal no Palco Super Bock. Finalmente, como a própria vocalista, Ellie Jackson, fez questão de sublinhar, pedindo desculpa pelos cancelamentos dos dois concertos anteriormente agendados para palcos nacionais. E prometeu regressar, revelação muito bem acolhida numa actuação curta - 40 minutos apenas - e que agradou sempre.
Os singles "In For the Kill" e "Bulletproof" foram um colosso, claro, mas temas como "Growing Pains" ou "Colourless Colour" não lhes ficaram atrás. No meio destes rebuçadinhos synth pop ninguém pedia surpresas, embora ainda tenha havido espaço para uma versão de "Under My Thumb", dos Rolling Stones (talvez o momento mais denso), ou para os parabéns cantados a um dos músicos. Jackson, cujo ar andrógino foi ampliado pelo cabedal negro das suas calças e blusão, afastou-se da atitude distante dos videoclips com uma postura afável e comunicativa, tendo como recompensa uma das melhores recepções da noite. Estreia aprovada, portanto, e o regresso será certamente aguardado.
Outras sensações indie do momento, e também britânicos, os The xx e Florence + the Machine não foram menos concorridos. Ambos tinham já passado pela Aula Magna este ano e agora confirmaram a impressão aí deixada. Sim, são mesmo bons ao vivo (em disco já se sabia há mais tempo), mesmo que em vertentes bem distintas.
O trio adolescente perdeu alguma da timidez da estreia, mantendo ainda a contenção que o dintingue - devidamente abandonada em momentos extraordinários como "Night Time" ou "Infinity", onde foi impossível não aderir à viciante pulsão rítmica.
Já Florence Welch dá bom uso à expressão "animal de palco". O vestidinho rendado é só para enganar, porque atrás da aparente fragilidade esconde-se uma artista vulcânica e encantatória com uma voz imponente e energia a condizer. "Dog Days Are Over", "You Got the Love" ou outros temas de "Lungs" foram cantados pela vocalista e pelo público a plenos pulmões e, também por isso, o Super Bock foi mesmo o espaço mais recomendável deste primeiro dia. Pena que tenha sido árduo e moroso conseguir encontrar um lugar onde se visse o palco (os ecrãs laterais foram por isso uma boa novidade desta edição). Mas quem se deu ao trabalho teve o esforço mais do que compensado.
Num festival onde é especialmente impossível acompanhar todos os concertos, este primeiro dia contou ainda com os Kasabian, Alice in Chains, Devendra Banhart, Tiga ou The Drums, apenas mais alguns de um sortido de boa colheita. Esta sexta-feira a colecção de nomes fortes continua num dia onde brilham os Deftones, Gossip, New Young Pony Club ou Skunk Anansie.
Texto @Gonçalo Sá
Fotos @Vera Moutinho
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