
Uma noite de segunda-feira chuvosa não será das mais apelativas para abandonar o conforto do lar, mas ainda assim o Santiago Alquimista conseguiu ficar quase repleto. Afinal, não há assim tantas bandas que valorizem a experiência ao vivo como os Asian Dub Foundation, e essa reputação terá encorajado boa parte dos seus intrépidos espectadores.
De regresso ao local que o acolheu na sua última passagem por Portugal, há três anos, o colectivo britânico (com elementos de ascendência maioritariamente indiana) veio apresentar o seu novo disco, "A History of Now", o sétimo de um percurso iniciado em 1993.
Tal como os outros registos mais recentes do grupo, o novo álbum não acrescenta muito à fusão de rap, punk, dancehall, rock, drum n' bass, ragga ou, claro, dub. Se calhar também não há assim tanto para acrescentar a uma mistura já suficientemente ecléctica, até porque ao vivo essa combinação continua efervescente como poucas.
Videoclip de "A History of Now":
O contágio é tão imediato que, mesmo antes da entrada em palco de todos os elementos, algumas dezenas de espectadores não perderam tempo a bater palmas ao ritmo do instrumental, mais dubstep do que dub, que funcionou como introdução.
A hora e meia que se seguiu não terá defraudado quem esperava uma actuação vitaminada, dando carta branca a alguns dos temas mais acelerados dos Asian Dub Foundation. A dupla de "Speed of Sound", tapeçaria sonora condimentada com samples de cânticos indianos, e "A History of Now", com uma pujança capaz de fazer o techno corar de vergonha, originou alguns dos minutos mais incisivos. A segunda foi dedicada à Líbia, ao Egipto ou à Tunísia, "locais onde se está a fazer história", salientou o guitarrista Steve Chandra Savale. O músico deixou, aliás, introduções para grande parte das canções, dedicando ainda "Target Practice" às manifestações londrinas ou elogiando a música portuguesa - como a que é feita por Chullage ou pelos Blasted Mechanism, "aqueles tipos com fatos esquisitos".
Al Rumjen e Aktarv8r, os dois vocalistas, não tiveram uma postura menos participativa, aproximando-se várias vezes do público das primeiras filas e convidando-o a cantar e saltar consigo - o que não foi difícil, já que as batidas fortes, os contagiantes riffs de guitarra e a percussão frenética não deram grande descanso.
Mas se enquanto agitadores não perderam a força, nas canções os Asian Dub Foundation não se mostraram tão consistentes como no concerto de 2008. Desta vez, o alinhamento ignorou quase por completo os primeiros discos - e também os mais interessantes -, embora tenha deixado uma surpresa para o final. Já no segundo encore - depois de um primeiro incendiado por "Fortress Europe" -, a banda revisitou finalmente um tema da sua fase inicial. "Esta é só para vocês, Lisboa", explicou o guitarrista no meio de uma sucessão de gritos e aplausos (mantida durante largos minutos, antes de um regresso que já não estaria previsto). "É muito antiga e remonta a 1997", sublinhou o músico ao apresentar "Free Satpal Ram", do segundo álbum da banda, "Rafi's Revenge" (1998). A resposta do público, em forma de epidemia saltitante - talvez a maior da noite -, foi o final perfeito para uma actuação com direito a sequela, já esta noite, no Hard Club, no Porto. Espera-se nova corrida para mais uma festa desenfrada, faça chuva ou não.
Texto @Gonçalo Sá/ Fotos @David Oliveira
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