Porém, foi pelo presente que se começou, com No Match a assinalar a entrada em palco de Will Oldham, nome de batismo deste cantor de Louisville, e dos músicos de quem se fez acompanhar, que ocuparam de imediato os lugares que lhes estavam reservados e, sem mais delongas,iniciaram a atuação. Porque à chuva se terá devido a afluência reduzida no Grande Auditório, aproveitemos-lhe as costas largas para a responsabilizarmospelo atraso pouco significativo do concerto, motivado pela entrada tardia do público na sala, perdido nas imediações labirínticas do recinto ou retido na difícil busca de estacionamento.
Para além do tema de abertura de “Wolfroy Goes to Town”, o longa-duração lançado este ano, fizeram parte do alinhamento Quail and Dumplings, Time to Be Clear, a relembrar a morte de Muammar Khadafi, We Are Unhappy, antecedida por lamentos sobre o mau tempo, e Black Captain, um pouco antes do final. Nos temas do novo trabalho foi notória a base folk e country do costume, evidenciada pelas harmonias e pela tonalidade vocal de Angel Olsen. Outro exemplo mais flagrante da indissociabilidade a este género da música popular norte-americana, da qual Oldham será embaixador para ouvintes mais desconfiados, tratou-se de I Don't Belong To Anyone, do não muito longínquo "Beware" (2009).
No decorrer do concerto, Bonnie “Prince” Billy, apesar de ter posto de parte os exageros expressivo-faciais de outros tempos, ilustrou as canções emotivamente, na assunção compenetrada de cada palavra narrada, como pôde ver-se em Love Comes to Me (“The Letting Go”, 2006). Surgido de imediato após o primeiro tema, desaguou num instante a capella, depois compensado por uma secção instrumental demorada. O dramatismo interpretativo regressou com Where Wind Blows e Teach me To Bear You, ambas a darem azo a caminhadas de longas passadas pelo soalho. Também dos projetos a par com o Cairo Gang ouviram-se You Win, Someone Coming Through e Island Brothers.
Da era anterior ao atual alter-ego, na qual oscilava entre as designações Palace Borthers, Palace Music ou, simplesmente, Palace, deixou-nos, por ordem de chegada, No Gold Digger, Pushkin e New Partner. Mas o destaque recaiu sobre I See a Darkness, do álbum com o mesmo título, onde Oldham vestiu primeiramente o nome pelo qual se tem vindo a fazer chamar até agora. O diálogo inicial com Emmett Kelly, nos primeiros versos, abrilhantou a canção, num dos momentos mais aplaudidos da noite. Para além de Olsen e Kelly, o músico contou ainda com a prestação dos instrumentistas Danny Kiely, no contrabaixo, e de Ben Boye, ora no piano ora no harmónio.
Para o encore, Bonnie “Prince” Billy, que entretanto já tinha despido o casaco do fato, trocou a camisa listrada - "comprada no Porto" -por uma t-shirt gasta e um boné, e regressou ao palco, mais os companheiros de digressão, para se despedirem de Guimarães. A You Want That Picture, de “Lie Down in the Light” (2008), coube o ingrato propósito, com Angel Olsen a tomar as rédeas à canção e descolar-se da postura apagada que manteve durante a noite.
Finda a atuação, as luzes do Grande Auditório acenderam-se com a certeza de que todos os que decidiram enfrentar o mau tempo foram compensados. Na noite seguinte, foi a vez de Lisboa receber o músico, para um concerto esgotado no Teatro Maria de Matos.
Alinhamento completo:
No Match
Love Comes to Me
I Don't Belong to Anyone
Beast for Thee
Where Wind Blows
No Gold Digger
Island Brothers
Quail and Dumpling
Time to Be Clear
I See a Darkness
Teach Me to Bear You
After I Made Love to You
You Win
Pushkin
Someone Coming Through
We Are Unhappy
Pack Up Your Sorrows
Black Captain
New Partner
encore:
You Want that Picture
Texto: Ariana Ferreira
Fotos: Margarida Pinto
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