Por mais curioso que possa parecer, da miscelânea de músicas que Capicua trouxe para o seu concerto (que contou com a presença habitual de M7, D-One e com um membro novo, Virtus), as de “Medusa” foram aquelas que causaram maior impacto na plateia. Não nos podemos esquecer que a rapper portuense correu grande parte dos festivais no ano passado, tocou em terras e terrinhas de norte a sul, e ainda apresentou as suas músicas ao vivo na televisão (já para não falar da rádio), o que pode levar a algum desgaste nas canções apresentadas (a própria, a dada altura do concerto, admitiu que “Medusa”, o disco de remisturas, é “um pretexto para iniciar uma nova digressão e renovar o repertório dos concertos").
Porém, a razão aqui pode ter sido outra: grande parte dos temas revisitados em “Medusa” estão inclinados para as pistas de dança, com um groove magnetizante e muita energia na zona dos sub-graves, o que, neste tipo de espaço, com sistema de som otimizado e uma envolvência própria (da decoração da sala, às medusas que enfeitaram o palco, tudo casou na perfeição), resulta às mil maravilhas. Que o digam aqueles que acabaram a noite, já no encore, a saltar ao som de “Barulho” (remistura de Stereossauro e Razat, com direito a jogo de luzes e confetis) e a abanar a anca com “Black Mamba” (remistura de Puto Anderson (Firma do Txiga)).
“Medusa” é uma aposta ganha, pelo menos no que toca ao exercício ao vivo. O próprio single homónimo, que conta com a participação de Valete (um dos convidados do concerto de ontem), acaba por ser uma cartada importante, por injetar a temática da violência doméstica nos seus concertos, de forma a consciencializar as massas para um problema que vive – cada vez mais – adormecido no conforto dos nossos lares, agravando-se com a culpabilização da vítima.
Enquanto músicas como “Casa no Campo” e “Sereia Louca” (a aniversariante da noite) vão perdendo, pelas razões óbvias, alguma força ao vivo, outras como “Soldadinho” (remistura de Sam The Kid , que contou com a participação da poderosa voz de Tamin), “Amigos Imaginários” (remistura de Virtus) e “Jugular” (remistura de Roger Plexico) reafirmam-se como bagagem fresca para a digressão que se avizinha. Ainda assim, é em “Barulho” que a festa promete atingir o ponto máximo, não só pela energia que a versão reimaginada em “Medusa” emana, mas também pela forma como é recebida no seio da audiência – no concerto de ontem, não houve quem poupasse energia na hora de dançar, saltar e acompanhar a letra.
Resultado: calor, suor e, muito provavelmente, um pedido de evacuação ao andar de cima do Lux, local onde se realizou a after party, guiada por Sam The Kid e Stereossauro.
Texto: Manuel Rodrigues
Fotografias: João Lambelho
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