A cantora norte-americana Cat Power termina no domingo em Portugal a digressão dedicada ao álbum que gravou ao vivo em Londres e no qual canta Bob Dylan, homenageando um músico que admira desde que se lembra de existir.

“Cat Power sings Dylan ‘66” é o segundo espetáculo da edição deste ano do Festival Jardins do Marquês, que começa no sábado e se prolonga até 9 de julho junto aos jardins do Palácio do Marquês de Pombal, em Oeiras.

Em maio de 1966 Bob Dylan apresentou-se ao vivo no Manchester Free Trade Hall, em Manchester, no Reino Unido, dando um espetáculo que acabou por ficar conhecido como o concerto do Royal Albert Hall, sala londrina onde em 2022 Cat Power recriou o momento, canção por canção.

Em entrevista à Lusa, ao telefone, a cantora recordou que estava em digressão com o álbum “Covers” e queria terminar no Reino Unido, tendo surgido a hipótese de atuar em 5 de novembro no Royal Albert Hall.

“E eu pensei logo ‘sim, mas quero fazer o disco do Bob Dylan’”, contou, lembrando que naquela data se celebra no Reino Unido a Noite de Guy Fawkes, também conhecida como Noite da Fogueira, ligada à tentativa falhada de explodir o Parlamento inglês em 5 de novembro de 1605.

Até então, Cat Power “nunca tinha tocado no Royal Albert Hall”, mas já lá tinha estado à porta, com 23 anos e “imaginava Bob Dylan a sair de lá”.

A cantora e compositora adora Dylan “desde pequena”, mas nessa altura, “início dos 20 anos”, era “loucamente apaixonada” pelo músico.

Desde os 15 anos já o viu ao vivo “mais de 30 vezes”, diz que lhe mudou a vida e chega a referir-se a ele como “God [Deus, em português] Dylan”. No álbum “Jukebox” (2008) gravou uma canção que lhe é dedicada: “Song to Bobby”.

Quando Cat Power levou as canções de Dylan para o palco do Royal Albert Hall, em 2022, decidiu seguir o formato do concerto de 1966 – com uma primeira parte acústica e a segunda elétrica, acompanhada por uma banda – e o alinhamento.

Nessa altura, recordou, nos Estados Unidos da América (EUA) “estavam a tirar a História Negra das escolas, a banir o aborto, não se podia dizer gay na escola ou eras expulso, não podias falar sobre as coisas”, referindo que “a luta pelos direitos civis, [pela] igualdade, [pelos] direitos das mulheres nunca acabou aqui [nos EUA]”.

Por isso, e porque “estes crápulas existem e fazem coisas estratégicas por dinheiro e poder”, decidiu que deveria gravar o espetáculo, “como um documento”, porque talvez não voltasse a repeti-lo.

“Gravo-o e talvez a mensagem das palavras do Bob transcenda e chegue a estudantes universitários por todo o mundo. Talvez aprendam sobre Bob Dylan, sobre a resistência nos anos 1960 e vejam o espelho nos dias de hoje”, partilhou.

Depois, acabou por ter ofertas para levar o álbum “Cat Power sings Dylan ‘66” em digressão.

Nas várias plateias, teve o seu público, mas também pessoas que não conhecem o seu trabalho e iam por Bob Dylan, da idade dos seus pais ou até mais velhas.

“As palavras dele têm muito significado para algumas gerações, têm muitos significados diferentes para muitas pessoas diferentes, em países e culturas diferentes”, referiu.

Poder tocar o álbum ao vivo desde novembro de 2023, tendo em conta que “as pessoas têm muitos sentimentos em relação a Bob [Dylan] e às suas palavras”, tem sido “um privilégio”.

“Ao fazê-lo comecei a aprender coisas nas letras dele de que nunca me tinha apercebido quando era uma miúda, uma adolescente ou uma jovem adulta, ou mesmo quando o encontrei por acaso três noites antes da gravação no Royal Albert Hall”, partilhou a cantora.

Atualmente, “com o estado do mundo”, diz que sente “uma espécie de febre” quando está em palco, semelhante à que tem a certeza que Bob Dylan sentiu “ao fazer as suas canções dedicadas aos movimentos de protesto”.

O concerto de domingo em Oeiras “vai ser o último espetáculo” de Cat Power dedicado ao álbum “Cat Power Sings Dylan '66”.

Quando regressar aos Estados Unidos vai “escrever e gravar”, tendo em vista um novo álbum de originais, que espera editar no próximo ano e no qual já tem estado a trabalhar. Sobre ele consegue dizer que provavelmente será como “Sun” (2012) e “Covers” (2022), “no que diz respeito a orquestrações e escrita”.

A primeira parte do concerto de Cat Power no domingo é assegurada pela fadista Gisela João. Nesse dia, no segundo palco do festival atua A Sul, projeto de Cláudia Sul.

O Jardins do Marquês arranca no sábado com os jamaicanos The Wailers, precedidos dos Kassav’, originários da Martinica e de Guadalupe, e da Banda B.Leza.

Na segunda-feira, dia 30 de junho, atuam José González, Mayra Andrade e Malva. O dia 2 de julho é dedicado à comédia, com Pedro Teixeira da Mota e um grupo de convidados: Salvador Martinha, Diogo Batáguas, Luana do Bem, Hélder Machado e João Miguel Costa.

Em 05 de julho sobem a palco Simone, Rogê e Aline Paes, no dia seguinte Mario Biondi, Herman José e The Lisbon Electric 4Tet, de Jason Miles.

O festival termina em 9 de julho, com os Paralamas do Sucesso, os Detonautas e os Zanzibar Aliens.

Os preços dos bilhetes variam consoante os dias, custando os mais baratos 25 euros e os mais caros 85 euros.