"Cantar Grândola 40 anos depois" é organizado pela Associação José Afonso (AJA) e pela Casa da Imprensa, para recordar um espetáculo que aconteceu a 29 de março de 1974, um mês antes da revolução, e durante o qual artistas e público cantaram em coro aquele tema de José Afonso.

"Será uma evocação desse concerto muito importante, porque foi a partir daí que se escolheu o 'Grândola' como uma das senhas do 25 de abril", afirmou à Lusa Guadalupe Portelinha, da AJA.

Nesse espetáculo de há 40 anos, intitulado I Encontro da Canção Portuguesa, participaram nomes como Adriano Correia de Oliveira, José Carlos Ary dos Santos, Carlos Paredes, Fernando Alvim, Fernando Tordo, José Jorge Letria e José Barata Moura.

"No dia do espetáculo, a censura avisara a Casa de Imprensa, organizadora do evento, de que eram proibidas as representações de 'Venham Mais Cinco', 'Menina dos Olhos Tristes', 'A Morte Saiu à Rua' e 'Gastão Era Perfeito'. Curiosamente, a 'Grândola' era autorizada", recorda a Associação José Afonso.

Militares do Movimento das Forças Armadas estariam entre a assistência e escolheram aquela música de Zeca Afonso - gravada para o álbum "Cantigas do Maio" (1971) - para senha da revolução.

"Foi uma coisa bastante vibrante, ver o coliseu completamente cheio a cantar aquela música. Andávamos com o Zeca, conhecíamos a música, mas não tínhamos a pequena ideia de que aquilo ia acontecer [no Coliseu]", recordou o músico Manuel Freire à agência Lusa. Manuel Freire é o único dos 16 artistas agora convidados para o concerto comemorativo que subiu ao palco e atuou no Coliseu em 1974.

"Tínhamos recebido recomendações para não levantar muitas ondas porque a polícia de choque estaria à saída à nossa espera, mas as mensagens eram cifradas e as pessoas estavam já treinadas para as decifrar", recordou o músico, que ainda hoje guarda os documentos que indicam as músicas que viu censuradas.

Por falta de disponibilidade, por não terem sido convidados ou por já não estarem ligados à música, no concerto comemorativo de março estarão ausentes do palco nomes como José Jorge Letria, José Barata Moura, Fernando Tordo e Carlos Alberto Moniz, referiu Guadalupe Portelinha.

A responsável explicou que a intenção é, sem grandes saudosismos, evocar o repertório de José Afonso, mas também de Adriano Correia de Oliveira, José Carlos Ary dos Santos e Carlos Paredes, todos eles já falecidos.

Além de Amélia Muge, Júlio Pereira, Sérgio Godinho, Manuel Freire e Filipa Pais, no espetáculo de 28 de março estarão António Victorino D' Almeida, Couple Coffee, Esther Merino, Amílcar Vasques-Dias e Luís Cunha, Francisco Fanhais, Janita Salomé, João Afonso, Luísa Amaro, Rui Pato e Zeca Medeiros.

A par deste espetáculo, a Associação José Afonso prepara mais atividades para assinalar os 40 anos da revolução de abril, em particular debates e tertúlias, em Lisboa.

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