“Ninfas do Lis cantam José Afonso” começou a ser preparado em 2019 e cumpre o sonho do grupo coral de dar voz a temas de José Afonso.

O lançamento surge após o maestro Mário Nascimento ter dedicado mais de 200 horas a adaptar temas para serem cantados ‘a capella’ e o grupo ter ensaiado durante dois anos, a par de um ano e meio de espera pela permissão de direitos de autor.

No sexto álbum do coro de Leiria, o cancioneiro de José Afonso é cantado a três ou quatro vozes, com acompanhamento pontual de pau de chuva, ‘shaker’ ou palmas, numa nova abordagem a “Índios da Meia Praia”, “Venham mais cinco”, “Redondo vocábulo”, “Canção de Embalar”, “No comboio descendente” ou “Frui à beira do mar”.

Um trabalho que se revelou “um desafio grande”, reconheceu à agência Lusa o maestro, que selecionou “repertório menos óbvio”.

Também foram escolhidas e adaptadas canções relacionadas com o universo feminino, evocando a natureza do grupo coral, como “As sete mulheres do Milho” ou “Mulher da erva”, e ainda “Galinhas do mato”, inspirada na vivência de José Afonso em África, ou “Tu gitana”, escrita em castelhano e proveniente de um vilancico que integra o Cancioneiro de Elvas.

Os arranjos estenderam-se a músicas que José Afonso escreveu para poemas de Luís de Camões, como “Verdes são os campos” e “Endechas a Bárbara escrava”.

“Está um CD muito bonito e com uma qualidade semelhante aos anteriores. Portanto, estou bastante contente”, afirmou Mário Nascimento.

Há muito que as Ninfas do Lis queriam cantar José Afonso porque, por um lado, as suas obras “são ricas musicalmente, do ponto de vista harmónico, rítmico e melódico”, e também “do ponto de vista poético”.

Além disso, realçou o maestro, este património contém “uma componente política, diga-se, de luta pela justiça, que é importante”.

Embora os temas para este disco tenham sido escolhidos pela forma como o arranjador imaginou que ficassem interpretados pelo coro, a intervenção social do cantautor é também convocada.

“A riqueza musical é o que me cativa mais”, notou Mário Nascimento.

“Mas, independentemente de nos identificarmos com as cores políticas dele ou não, é significativo ver uma pessoa que, através da música, tentou que o mundo fosse melhor e fosse mais justo, que lutou contra o fascismo, pela liberdade”.

Este projeto foi também uma forma de apresentar a algumas coralistas - 28 entre os 12 e os 45 anos -, a vida e obra de José Afonso.

“Muitas não conheciam as suas músicas nem o próprio Zeca Afonso. Eu próprio, neste processo, descobri peças que não conhecia, como ‘Tu gitana”, assumiu.

Com este novo trabalho, as Ninfas do Lis pretendem “satisfazer o gosto tanto de quem sabe bastante de música, como de quem, não sabendo nada, é apreciador. Queremos chegar a vários públicos, independentemente do nível de conhecimento musical”.

O concerto de apresentação está agendado para o Auditório José Vareda, no Sport Operário Marinhense, a partir das 21h30 de sábado.

O coro anunciou, entretanto, que no próximo ano, a par dos concertos do disco “Ninfas do Lis cantam José Afonso”, participará no espetáculo “O coreto”, de Rogério Charraz, num projeto de música medieval e numa parceria com o Ars Lusitanae.