“Estamos conscientes do significado que a nossa música tem por ser cantada em ucraniano. Temos um vizinho [Rússia] agressivo que afirma constantemente que nós [ucranianos], a nossa língua e a nossa cultura não existem. Por isso, cada produto cultural ucraniano, seja ele uma música, um filme ou um livro, para além de uma expressão natural da criatividade, é simultaneamente um ato de resistência por parte dos ucranianos”, explicou à Lusa Marko Halanevych, vocalista e multi-instrumentista.
Durante a última década, Marko Halanevych, Olena Tsybulska, Iryna Kovalenko e Nina Garenetska têm estado na linha da frente da luta cultural da Ucrânia contra o domínio russo, sendo já considerados por muitos como “embaixadores da cultura ucraniana e da música tradicional”.
Segundo contaram, em 2014, a anexação russa da Crimeia foi um ponto de viragem para a forma como se pensava a música ucraniana, numa altura em que muitos artistas optavam por cantar em russo, por ser uma língua mais facilmente comercializada.
Foi nesse momento que os DakhaBrakha chegaram à conclusão de que “não estavam a fazer o suficiente”. Com as oportunidades e espaço que tinham era-lhes possível dar palco a um povo que tentam oprimir e silenciar.
Para Halanevych, a política é indissociável da arte e, por essa razão, a banda começou a utilizar o espaço e visibilidade que tinha para espalhar mensagens de revolta e inquietude.
“Não podemos estar fora da política. A política determina a nossa existência e a de milhões de pessoas. Não escrevemos textos políticos, mas somos obrigados a pronunciar mensagens políticas”, concluiu o artista.
É em palco, com roupas tradicionais folclóricas e projeções de uma Ucrânia devastada, que os DakhaBrakha assumem a missão de se libertar de todos os “complexos de inferioridade” com que o país cresceu.
As músicas, caracterizadas pela fusão dos timbres tradicionais ucranianos com as influências étnicas de outros continentes, não têm letras “propriamente revolucionárias ou patrióticas”, mas baseiam-se em textos populares e em sonoridades milenares, pelo que se tornam num "símbolo de resistência", que remetem à herança do imperialismo.
Para a comunidade ucraniana dos países por onde passam em digressão, este espetáculo é um “momento muito importante e positivo”, que os aproxima das suas origens e família.
“Nós vemos que estes concertos são muito importantes para eles, apesar de relembrarem também episódios traumáticos. Os ucranianos ficam gratos por algumas emoções familiares, palavras, memórias… Para alguns deles é uma ligação a casa, para alguns é como terapia, e para outros é simplesmente algo positivo”, afirmou Marko Halanevych.
Atualmente, o público não se cinge apenas a ucranianos, mas a qualquer pessoa que queira ter a oportunidade de explorar uma parte desta cultura e “agarrar algo novo”.
Os DhakhaBrakha estiveram pela última vez em Portugal em 2013 no Festival Músicas do Mundo, em Sines.
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