É o regresso dos Sigur Rós ao experimentalismo e embora as paisagens sejam comuns (uma sonoridade muito próxima ao que a banda fez anteriormente), continua a ser uma lufada de ar fresco.
Quando em 2010 o grupo anunciou que tinha cancelado as gravações de «Valtari» e que estava num hiato, muitos temeram o fim do projeto. No mesmo ano, Jónsi, guitarrista e vocalista, lançou o seu disco a solo, «Go», e entrou em digressão. Mas quando nada fazia prever, os Sigur Rós regressaram ao estúdio.
Este não é um álbum que vá trazer novos fãs à banda. Se é certo que todos os artistas querem que a sua música chegue ao maior número de pessoas, a «Valtari» falta o ligeiro tom comercial, ou mais imediato, dos seus antecessores mais próximos. Tanto «Takk» (2005) como «Með suð í eyrum við spilum endalaust» (2008) tinham pinceladas de alegria e Jónsi chegou a pedir desculpa por esses álbuns serem «muito alegres, muito festivos».
Em «Valtari» não vamos encontrar muitos crescendos ou momentos frenéticos de bateria. Aqui tudo é subtil: as guitarras, os teclados, as cordas e a bateria (que quando lá está, poucas vezes se manifesta).
Há uma clara mudança de direção neste disco, mas as paisagens a que nos conduz são as mesmas, como se fosse uma maldição. Estamos condenados ao belo para sempre. É possível encontrar a mesma pureza cristalina, a mesma voz angelical, a mesma brisa suave das guitarras e dos arranjos de cordas. Ouvir Sigur Rós é viajar pelas paisagens da Islândia, só que desta vez muito mais lentamente. As notas e os acordes arrastam-se até onde lhes é possível.
Um disco, 12 filmes
Durante os anos as canções dos Sigur Rós têm sido usadas em filmes e documentários por todo o mundo, desde «Vanilla Sky», passando pela série «CSI» ou pelo programa da BBC «Planeta Terra». Desta vez, e em jeito de antecipação, a banda convidou 12 realizadores para darem a sua visão sobre as oito faixas que compõem «Valtari». Entre os nomes escolhidos encontram-se Alma Har'el, cujo «Bombay Beach» recebeu o Prémio de Melhor Documentário no Tribeca 2011 (NYC, USA), John Cameron Mitchell, realizador de «Shortbus», «Hedwig & The Andry Inch» e «Rabbit Hole», ou ainda o fotógrafo americano Ryan McGinley. O resultado pode ir sendo acompanhado aqui.
Georg Holm afirmou: «Nunca quisemos dizer a ninguém o que sentir ou o que retirar do quer que seja. Com os filmes, não temos literalmente qualquer ideia sobre o que os realizadores nos irão trazer. Nenhum deles sabe o que outro está a fazer, portanto esperamos algo interessante.»
O primeiro filme, do tema «Ég anda», já está disponível e foi realizado por Ragnar Kjartansson. E é precisamente «Ég anda», o primeiro tema do disco, que dá o mote ao resto do álbum. Voltamos a encontrar noutras faixas os coros que enchem a música, as guitarras e os pianos minimalistas, os violinos que nos fazem recordar os Godspeed! You Black Emperor e, por fim, a voz de Jonsi.
Em algumas faixas, como «Varúð»ou «Rembihnútur», ainda podemos sentir o vibrar do baixo de Georg Holm e a irreverência da bateria de Orri Páll Dýrason. Mas os restantes temas estão repletos de camadas minimalistas carregadas de emoções e seguem interligados sem que por vezes se sinta a transição entre eles.
«Valtari» é claramente uma viagem ao passado, ao futuro, uma viagem pela Islândia ou até por constelações. Com momentos mais melódicos ou outros como na faixa-título, em que não há uma melodia dominante, mas há uma quietude e uma melancolia que prende até ao final do disco.
Este mudar de direção conduz a um lugar-comum da banda, já que não há nada de novo em «Valtari» - até o experimentalismo que se encontra é familiar. Mas não há como não gostar do último trabalho de Sigur Rós, um dos melhores que a banda editou.
«Valtari» prima pela excelente produção, pelas melodias carregadas de sentimento e pelos ambientes cinematográficos. Conclusão feliz: os Sigur Rós continuam a ser Sigur Rós.
@Edson Vital
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