Nicki Minaj procurou explorar novos caminhos mais do que aperfeiçoar aquilo que a tornou famosa: rimas criativas e um “flow” fresco. E é nessa procura que o disco falha redondamente.
Mas comecemos pelo início: “Pink Friday: Roman Reloaded” surge numa primeira parte mais hip-hop, com beats minimalistas e rimas agressivas. Nesta fase podemos ver o foco no seu alter-ego Roman Zolanski, que toma conta da rapper quando se enfurece. Nicki já tinha prometido que iríamos ver muito dela neste disco e a promessa foi cumprida - em quase todas as nove músicas iniciais a presença de Roman é sentida.
A abertura do álbum é talvez o seu melhor momento, com “Roman Holiday”, onde a cantora confessa a sua loucura e podemos sentir a agressividade das suas rimas e a versatilidade do seu flow. A meio da faixa ouvimo-la cantar uma versão de "O Come, All Ye Faithful". Para os fãs do seu estilo, é um excelente início, a que se segue “Come on a Cone”, com punch lines muito fortes que a colocam entre as melhores neste tipo de rap. O beat é minimalista com alguns sons futuristas, que deixará muitos rappers a babar. Podemos também ouvir o regresso de rimas sexuais, algo que sempre esteve presente nas suas mixtapes, mas que não marcou presença no seu álbum de estreia.
A sua mestria em dominar os beats e a sua criatividade continuam em faixas como “I am Your Leader” (com a participação de Cam’ron e Rick Ross) e “Beez in the Trap” (com 2Chainz e produzido por Kenoe), uma das melhores músicas do disco.
Videoclip de "Stupid Hoe":
“Roman Reloaded”, faixa 6, tem também um beat minimalista, com alguns pormenores interessantes: temos o gatilho de uma arma como percussão e a participação de Lil Wayne. Esta é mais uma canção muito bem conseguida, com os dois rappers a tomarem conta do beat de forma perfeita.
Nesta primeira parte do disco, Minaj conta apenas com convidados masculinos - os já referidos Cam’ron e Rick Ross, 2Chainz, Lil Wayne, Nas, Drake e Young Jeezy (os três últimos em “Champion”) - e o seu talento para as rimas está ao nível de todos eles, negando o mito (defendido por alguns) de que as mulheres não podem ser tão boas rappers como os homens.
É depois de “Champion” que as coisas começam a mudar, é aqui que os fãs mais puritanos de hip-hop poderão deixar de se sentir atraídos por este álbum. O disco torna-se mais pop, muito próximo do que estrelas como Rihanna e Lady Gaga têm feito.
“Right by My Side” surge como uma canção de amor com a participação de Chris Brown e é claramente uma canção soft, muito diferente daquilo a que Nicki nos tem habituado. Esse lado mais romântico da rapper continua com “Sex in the Lounge”, que conta mais uma vez com a presença de Lil Wayne e Bobby V.
“Starship” é um dos singles do disco e apresenta um pop-electro-europeu que nada traz de novo, com um refrão claramente para as pistas de dança: "I'm on the floor / I love to dance / If you want more / Then here I am."
Nas faixas seguintes Nicki surge mais como cantora do que como rapper. Os temas confundem-se muito uns com os outros por serem bastante parecidos, especialmente em “Pound the Alarm”, “Whip It” e “Automatic”, todos produzidos por RedOne, com refrãos que fazem lembrar Aqua, Britney Spears ou Jennifer Lopez. Nicki expõe várias vezes as suas fragilidades como cantora, faz-nos desejar que o álbum termine e torna-o muito longo. O que prometia ser um bom disco perde-se sem se entender muito bem porquê, como se a rapper estivesse com alguma crise de identidade e tentasse provar algo que não lhe é pedido.
Nicki Minaj quis explorar o seu lado mais melódico e apostou demais em fazer sucessos para as pistas de dança, que poderão garantir-lhe novos fãs e encorajar a perda de outros tantos. É claramente um álbum bipolar cuja tentativa de ser pop escondeu todas as qualidades da artista, levando-a para um território que não é o seu. É possível que este disco venha a ter sucesso comercial, mas está longe de ser um bom álbum, apesar de bons momentos inciais.
O percurso de Nicki Minaj tem sido sempre a crescer e de uma forma sólida. Passou de desconhecida a fenómeno das mixtapes e agora faz parte da editora Cash Money, casa de artistas como Lil Wayne ou Drake. O seu primeiro disco, “Pink Friday” (2010), chegou a platina nos EUA, com um milhão de discos vendidos no primeiro mês, e foi muito bem recebido pela crítica. “Pink Friday: Roman Reloaded” não tem a qualidade desse arranque, dando a sensação de que a rapper cedeu à pressão/maldição do segundo disco - neste caso, do difícil e desapontante segundo disco.
@Edson Vital
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