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Guitarrista e membro fundador dos Ornatos Violeta, Peixe mergulha agora no seu primeiro álbum a solo, "Apneia". Não é de cortar a respiração – nem é isso que pretende –, mas as onze faixas desafiam uma silenciosa introspeção. Qualquer um tem a tendência de centrar atenções na voz e letras dos Ornatos Violeta, desvalorizando que uma tão forte carga emocional não se conseguiria sem boa técnica por trás. Mas com esta aventura em nome próprio, o guitarrista do célebre grupo (que passou depois pelos Pluto, Zelig e já fez parte de uma banda de jazz) não parece reivindicar grande burburinho; este é antes um projeto de liberdade sossegada, longe da construção convencional por que as músicas passam, uma confissão melancólica. É para quem ainda tiver tempo de quebrar o ritmo frenético do quotidiano. À exceção de "Viagem", a segunda faixa do disco, que conta com uma voz feminina falada em inglês, o registo de "Apneia" é totalmente instrumental. Chega-lhe o dedilhado calmo de uma guitarra para passar a mensagem - vaga, é certo. São inevitáveis comparações com Filho da Mãe ou Norberto Lobo. Ao contrário destes dois dos mais entusiasmantes guitarristas da nossa praça, Peixe não nos arrebata com entradas de rompante ou variações de intensidade bem desembaraçadas. Os três convergem, ainda assim, no som refinado. "Apneia" peca por ser demasiado homogéneo, perto da fronteira que separa a meditação do marasmo. Para combater a monotonia, há lá pelo meio dois abanões com improvisos (assim denominados). Mais do que um despertar, traz um cheirinho do experimentalismo e desvario que tanto caracterizam os projetos por onde tem passado. Como todas as boas obras, revela pormenores valiosos em cada nova audição. Peixe escapa às análises mais prontas pela falta de letras. Mais do que isso, para além da métrica, há notas que não se podem digerir de forma apressada e leviana. Valem a pena os minutos de contemplação ao trabalho de quem se atreve a nadar fora do cardume.<
"Apneia" chega às lojas a 9 de julho.
@Pedro Pereira
"Escape" ao vivo no teatro Helena Sá e Costa, no Porto:
"Pêndulo" ao vivo no teatro Helena Sá e Costa, no Porto:
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