Em comunicado, a distribuidora assinala que a estreia é “o culminar das celebrações dos 50 anos de carreira do fadista português”, distinguido no ano passado com um Grammy Latino de Carreira.

A estreia do documentário esteve prevista para o dia de Natal do ano passado, mas foi adiada por "questões levantadas pela Sociedade Portuguesa de Autores [SPA] sobre direitos autorais", disse na ocasião à Lusa o representante da distribuidora cinematográfica NOS, Saul Rafael.

“Um homem no mundo" foi exibido no dia 21 de dezembro último, às 18h00, como obra ainda não concluída, na homenagem ao fadista, no Cinema S. Jorge, em Lisboa.

Em dezembro passado, em declarações à Lusa, Carlos do Carmo, de 75 anos, afirmou que o realizador lhe quis oferecer este filme.

“O Ivan quis oferecer-me este filme. Há ano e meio ele disse-me: ‘Vou fazer o filme da sua vida'. Andou atrás de mim, foi a Toronto, a Madrid, ao Brasil, e foi filmando, filmando e fazendo uma retrospetiva, e fez este documentário que é muito cheio de afetividade - o que ele tem sobretudo é afetividade”, disse o fadista, que lembrou que o realizador “andou a bater de porta em porta”, para conseguir os necessários apoios financeiros.

Ivan Dias, por seu turno, afirmou que “é um filme de afetos, de amizades, um filme de amor”.

“Eu diria que este é um filme de amor”, sublinhou o realizador que assinou também a produção de “Fados” (2007), de Carlos Saura, e que realizou, no ano passado, um documentário sobre o viola baixo Joel Pina.

“Neste filme, e só para os amigos, Carlos do Carmo revela-se, o que me permitiu, como realizador, poder mostrar este mundo que ele não pôde mostrar ao grande público, e só mostrava aos amigos”, disse Ivan Dias.

Entre as descobertas deste filme, há uma gravação de “Carlos do Carmo aos 11 anos a cantar, com uma voz de cana rachada, baiões de Luiz Gonzaga, mas já com toda a 'artistice', e depois percebemos como esse rapaz vai estudar para a Suíça, volta para Portugal, o pai morre, ele fica com a gestão da casa de fados [o Faia] nas mãos - casa que tinha a grande Lucília do Carmo à frente -, e é uma sucessão de coisas que lhe aconteceram, que, de certeza, ele não teria pensado, nem os pais tinham pensado para a vida dele. Ele é levado quase pelo ADN para cantar o fado”, contou o cineasta.

Embaixador da candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade, Carlos do Carmo realçou à Lusa a importância deste tipo de documentários, que não foi possível fazer no passado.

“É indispensável, para a memória do futuro, para as pessoas saberem quem nós éramos, ao que andávamos, como era o nosso feitio, e depois têm os discos para ouvir”, rematou.

Numa entrevista à Lusa, o fadista contou que começou a ouvir fado ainda dentro do ventre da mãe, destacando também a importância das idas às verbenas para ouvir fados, acompanhado pelos pais, e "a escola que era O Faia, onde se ouvia muitos fadistas, designadamente Alfredo Marceneiro", e a sua mãe, criadora de êxitos como "Maria Madalena" e "Foi na travessa da Palha".

O seu primeiro disco foi editado pela Alvorada, em 1963, com o título "Mário Simões e o seu Quarteto apresentando Carlos do Carmo", ao qual se seguiu, em 1964, "Carlos do Carmo com a Orquestra de Joaquim Luís Gomes".

Ao longo da carreira somou mais de duas dezenas de álbuns, entre antologias, registos ao vivo e de estúdio, como o mais recente "Fado é amor", em que partilha a interpretação com nomes como Mariza, Camané e Ricardo Ribeiro.

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