Referindo-se à opção pelo universo musical do fado clássico, que caracteriza todos os seus álbuns, a fadista e letrista afirmou: "não sei é como vou sair daí”. “O fado tradicional tem uma margem tão grande de improviso, seja melódico, seja ritmíco, seja pela possibilidade de contar inúmeras histórias tão diferentes, que é um encanto”, argumentou.

“Tenho algumas músicas originais mas que nunca ultrapassaram o meu gosto pelas melodias tradicionais, apesar de as originais serem muito válidas”, acrescentou a fadista que se referiu à sua ligação com o fado tradicional como “um caso de amor em que a paixão se reacende sempre”.
“Cuido dele [do fado] diariamente, quer cantando na casa de fados [no Senhor Vinho há 16 anos], quer ouvindo discos, é um amor tão a sério que acumula com a paixão que se reacende”.

Para a fadista o universo de 140 fados tradicionais é “um jogo de espelhos que se pode levar até ao infinito”.
“O fado bailado [de Alfredo Marceneiro], por exemplo, basta contar outra história ou alterar o tom, maior ou menor, e lá temos um fado completamente novo e isso aplica-se a todos os outros tradicionais”, defendeu.

Neste álbum, apresentado como um livro, com prefácio (do editor Manuel Valente), introdução (do musicólogo Rui Vieira Nery) e um poema de abertura de Pedro Mexia, “A Balada do Café Triste” que é “uma síntese do disco”, a fadista interpreta os fados Cigano, Pagem, Pedro Rodrigues, Cravo, Amora, Manuel Maria Marques, Menor do Porto, Vento, Esmeraldinha, Alberto, Franklin Godinho e João”.

Os letristas escolhidos “são amigos”, o que para a intérprete facilita a interpretação pelo conhecimento que têm de si. Aldina defende que se deve cantar letras e não tanto poemas, pois a letra “adapta-se mais facilmente à música que a ajuda também e é a linguagem de todos os dias”.

Manuela de Freitas, Maria do Rosário Pedreira, José Mário Branco e José Luís Gordo são os poetas que desafiou a escrever “pensando numa obra literária”, além de uma letra de sua autoria, “Que Amor é Este?”, a partir do romance “O Eterno Marido”, do russo Fiódor Dostoiévski que foi o primeiro escritor estrangeiro que leu e como ninguém escreveu a partir dele, sentiu a “urgência de o fazer".

À Lusa, Aldina Duarte salientou que este quarto álbum é o primeiro em que canta o “desamor”. "Nunca cantei o desamor, o vazio, como é o caso de ‘Ainda Mais Triste’ [de M. de Freitas a partir de “Longa Jornada para a Noite” de Eugene O’Neill], é muito difícil cantar o vazio, uma mulher que tem tudo para amar e não é capaz de amar”.

A fadista afirmou que este álbum “foi muito exigente em termos de interpretação” e que a está a mudar, e citou o fado “À Espera de Redenção”, de M. de Freitas, a partir da tragédia clássica “Medeia”, de Eurípedes. “Como cantar a frieza de Medeia?”, interrogou.

Habitualmente acompanhada por José Manuel Neto (guitarra portuguesa) e Carlos Manuel Proença (viola) a quem reconhece que “muito deve” e que sem eles não seria a fadista que é hoje, Aldina Duarte neste CD além destes dos dois músicos galardoados com o Prémio Amália, convidou para dois temas o guitarrista Paulo Parreira e os violistas Miguel Ramos e Rogério Ferreira que a acompanham na casa de fados e muitas vezes em concertos.

A par do lançamento, Aldina Duarte apresenta também segunda-feira o álbum em duas FNAC, na do Chiado pelas 18:30 e na do Colombo pelas 21:30. No dia 29 de novembro apresentará "Contos do Fado", editado pela ArtHouse, no palco da Culturgest, em Lisboa.

@Lusa