“O festival do ano passado esteve completamente cheio, foi muito bom, tivemos muita gente. E a expectativa é de voltarmos. Principalmente porque continuamos a achar que a proposta que o Bons Sons traz, o panorama musical nacional, é bastante diferenciada e acho que isso já é reconhecido pelo nosso público”, disse à Lusa Miguel Atalaia, diretor artístico de um festival que decorre numa pequena aldeia do distrito de Santarém e que assinala a 12.ª edição em 2024.

O evento musical, cuja edição deste ano foi adiada devido às obras de requalificação urbana do Largo do Rossio, em Cem Soldos, área habitualmente ocupada pelo festival Bons Sons, abriu esta semana as inscrições para voluntariado e colocou os primeiros ingressos à venda, mesmo antes do cartaz, que “vai ter 50 bandas”, ser tornado público.

“No fundo, estamos com algumas equipas a funcionar, que começam a funcionar com mais antecedência. E sim, os bilhetes já estão à venda, começámos com a primeira fase e bilhetes a 40 euros, e vai aumentando ao longo dos meses. As pessoas já estão familiarizadas com a forma como nós trabalhamos a questão de bilhética. Há vantagem em comprar mais cedo, apesar de ainda não se conhecer o programa, mas continuamos a acreditar na proposta que vamos desenhar e felizmente muitas pessoas também acreditam mesmo antes de conhecer os primeiros nomes”, indicou Atalaia.

O primeiro nome, apesar de tudo, já se conhece. “Chama-se Femme Falafel e resulta da nossa parceria com o Festival Termómetro. Venceu o Festival Termómetro no ano passado, e é a primeira presença confirmada para 2024”, avançou.

Com o mote ‘Vem viver a aldeia’, são os cerca de 700 habitantes que organizam e montam o festival, ao longo do qual acolhem e servem os visitantes, numa “partilha que distingue o Bons Sons dos restantes festivais portugueses”, relevou o responsável.

“Sim. A aldeia tem um número estimado de 650, 700 pessoas. A dinâmica de voluntariado mantém-se, e contabilizamos todos os anos cerca de 400 voluntários, diretos, além da senhora e da mãe que ficam em casa a fazer comida para os familiares que estão a fazer turnos e todas essas dinâmicas que também acontecem. Mas, no fundo, 400 voluntários da aldeia, mais 100 voluntários que vêm de fora. Portanto, no fundo, estão a responder a partir de agora, também, à campanha de angariação de voluntários para o Festival Bons Sons”, indicou.

Na base do adiamento da edição de 2023 está a realização das obras de requalificação, ainda em curso, do largo (Largo do Rossio) e do centro de Cem Soldos, aldeia que todos os anos é fechada e se transforma no recinto de um festival que “manterá” uma lotação de 35 mil festivaleiros, e que na próxima edição contarão com “um recinto mais nobre”.

“Eram obras que já eram muito desejadas pela aldeia, e faz todo o sentido que o festival também acompanhe essas dinâmicas que vão acontecendo. À parte disso, na verdade, o festival também vai ganhar com aquilo que se fizer, e que está a ser feito nesta obra, que é uma obra grande de requalificação do Centro de Cem Soldos. Portanto, vai-se notar também por parte dos festivaleiros, a própria aldeia ganha uma nova cara, e isso é já bastante visível nas ruas que já foram requalificadas, e esperemos que na altura do festival se note bastante para os visitantes. No fundo, esperamos as mesmas 35 mil pessoas e quatro dias de regresso em festa”, indicou Miguel Atalaia.

Organizado desde 2006 pelo Sport Clube Operário de Cem Soldos (SCOCS), o Bons Sons manteve-se bienal até 2014, passando depois a realizar-se anualmente, “mantendo uma programação exclusiva da música portuguesa, completamente aculturada e diversa, como é o nosso hábito”, sublinhou o diretor artístico do evento.

A aldeia de Cem Soldos é fechada e o seu perímetro delimita o recinto que acolhe 8 palcos integrados nas ruas, praças, largos, auditório, igreja e até em garagens e lagares.

“Motivo de orgulho para as gentes da aldeia” foi a distinção dos Iberian Awards, que considerou o Bons Sons de 2022 o festival ibérico que mais contribuiu para a igualdade e que obteve ainda o título de melhor acolhimento e receção a nível nacional.

“Acho que é muito pragmática a diferença de fazer um festival dentro de uma aldeia, em que as pessoas realizam e criam o próprio festival. Isso sente-se no público, essa distinção relativamente à forma como acolhemos significa bastante para nós, e tem muito a ver com aquilo que é o Bons Sons”, disse Miguel Atalaia, tendo indicado que “a distinção do contributo para a igualdade foi atribuída pela grande transversalidade” na proposta musical.

“Nós tivemos músicas, e mantemos um quadro de programação muito distinto, a tocar diferentes níveis de igualdade. Estamos a falar da igualdade de género, da igualdade a outros níveis, e isso foi também distinguido, e deixa-nos muitíssimo orgulhosos. Acho que as comunidades têm esta capacidade de inclusão, e esta capacidade de igualdade que às vezes os grandes centros urbanos não conseguem. Tem muito a ver com o que é a aldeia e foi bem comemorado também entre as pessoas".