Sábado foi o inegável dia dos Secrets Chiefs 3, a banda de Trey Spruance (dos incontornáveis Mr. Bungle). Ao vivo são uma mistura explosiva de rock noise com pitadas do Médio Oriente, numa reinterpretação muito própria e particular da música do mundo. "Book T: Exodus" arrebatou a plateia e o pó levantou-se no Palco Milhões. "Tistrya" e "Exodus" confirmaram o sucesso daquela que é tida por muitos como a banda referência do avant-garde étnico ocidental.

Antecedendo esta actuação, subiram ao palco as Vivian Girls. Directamente de Brooklyn, aterraram em Barcelos para um concerto leve e simples, no qual o convite para dançar foi permanente. Todos gostaram, não pela genialidade eventual que elas ofereceram, mas pelo despretensiosismo de Cassie Ramone, que dirigiu a guitarra e a voz.

Também no palco protagonista, o início da noite agitou-se com uma banda da casa, aquela que talvez mais fez por Barcelos e incluíu definitivamente a cidade no roteiro alternativo nacional. Com três belíssimos trabalhos editados, os Kafta são o que o seu próprio nome encerra: uma mistura nostálgica e melancólica que evoca tanto o escritor como ambientes soturnos. Ouviu-se um pouco de toda a sua carreira, entre as quais"Rational Experiences", "Soul Cage" e "Atira a Capa ao Mar".

A noite de sábado reservou no Palco Vice uma surpresa: os Zu, trio de noise italiano, desbravaram o difícil terreno do heavy metal jazz noise, com um saxofone demoníaco a ditar as composições. Massimo Pupilo toca baixo de uma forma agreste, de olhos fechados. É hipnótico assistir! Durante quase uma hora, os Zu não se interrompem, como se de uma única música contínua se tratasse.

The Anti Pop Consortium e Bob Log III foram as outras participações que mais se destacaram no Palco Vice. Enquanto Bob Log III faz a festa por si próprio (fato espacial, capacete futurista e energia q.b. nos diferentes instrumentos que toca e abusa) já os Consortium eram muitos, detentores de ritmos bem distintos. Neles o hip hop é rei e são donos e senhores de algumas das malhas mais importantes deste registo musical em fusão nítida e clara com IDM (Intelligence Dance Music).

A tarde começou na Piscina com a inconsistência musical dos Traumático Desmame e a sua ainda mais inconsistente improvisação. Seguiram-se os Mr. Miyagi e o barulho continuou, mas agora já é de outro que falamos, o de uma violência sonora punk harcore digna de registo, sobretudo quando sabemos que o público estava dentro de água enquanto se fazia crowdsurfing desgovernado.

E então chegam os Long Way to Alaska, miúdos ainda, detentores de uma música bonita, simples, leve, mais que perfeita para o cenário verde e azul transparente da Piscina. Misturam o indie com a folk mais delicada, reinterpretam o já muito trilhado caminho das melodias tranquilas, daquilo que agora se apelida de indie-new-folk, e reinterpretam-no muito, muito bem.

Texto: Ana Cancela

Fotografia: Ricardo Almeida