Palco Principal - Escolheste um local ao ar livre - as Portas do Sol, em Lisboa - para a apresentação oficial do teu álbum de estreia, "Family Tree". A que se deveu a escolha deste local?

Frankie Chavez - Escolhi este local pela beleza do sítio e pela vista. Já cá tinha feito um concerto numa festa privada, na qual fui muito bem recebido. Como adorei o sítio, lembrei-me deste local para fazer a apresentação. Vamos lá ver se o tempo está do nosso lado, se não está muito vento... (risos).

PP - Como nasceu este gosto especial pela música?

FC - Sempre gostei muito de música, aliás, eu toco guitarra desde os nove anos de idade.Na altura, era uma espécie de passatempo, tinha aulas de guitarra na escola, mas entretanto começou a tornar-se mais sério. Comecei a interessar-me bastante pela guitarra e comecei a aprender.Ouvia muitos guitarristas diferentes e tentava tocar as coisas que ouvia. Foi, portanto, muito de ouvido que aprendi a tocar. E, na verdade, as coisas começaram a correr bem, sendo que cheguei aos 17 anos e já não conseguia passar um dia sem tocar guitarra.

PP -Por que optaste pelo formatoOne Man Show?

FC - One Man Show é um rótulo que me meteram - um rótudo compreensível, uma vez que tudo aconteceu muito depressa. Eu tinha alguns temas e fui convidado por uma produtora de publicidadea gravá-los. Posteriormente, fui convidado pelo Henrique Amaro para apresentá-los ao vivo, num concerto, mas eu não tinha banda. Ainda era tudo muito experimental para mim, tudo era construído em estúdio: eu gravava uma linha de guitarra, depois gravava a letra e depois tudo o resto vinha por arrasto - em estúdio uma pessoa pode acrescentar o que quiser.Como tal,ainda não tinha banda. Mas, ainda assim, resolvi arriscar: fui tocar sozinho e, na verdade, resultou muito bem. Foi assim que nasceu este conceito de One Man Show.

PP - O tema The Search viria a revelar-se um êxito,após ter sidoescolhido como música oficial da prova Rip Curl Search 2009. O que reflecte esta música?

FC - Quandoo marketing manager daequipa europeia da Rip Curl, a quem já tinha apresentado a minha música,me propôsfazero temaoficial do campeonato, aceitei, obviamente,de imediato. Entretanto, a organização mostrou-me algumas imagens típicas de Portugal que estava a pensar utilizar para promover o evento - imagens de fadistas, das ruas, dos bairros, etc. -, para que me pudesse inspirar. E eu, naturalmente, pensei: se vamos receber o Campeonato Mundial de Surf, vamos ter que meter aqui um bocadinho de Portugal. Então, peguei na guitarra portuguesa e assim apareceu a música The Search. A letra foi baseada no conceito do evento, na sua importância para o surf, e na minha procura de uma sonoridade própria. Acho que tudo ligou muito bem, nomeadamente a questão da guitarra portuguesa, que nunca tinha ouvido entrar neste tipo de sons. Foi algo que me deu muito gozo explorar.

PP - Em 2010 lançasteum EP homónimo, editado pela Optimus Records. Este ano, acabaste de lançar “Family Tree”, o teu primeiro longa-duração. O que distingue estes dois registos?

FC - Depois de ter gravado o tema The Search, fui convidado pelo Henrique Amaro para integrar o projecto Optimus Discos. Apesar de já ter alguns temas gravados, decidi regravá-los para esta iniciativa, de uma forma muito mais crua, pois queria queo EPresultasse coerente com as minhas apresentações ao vivo, onde surgia sozinho. Não queria uma coisa muito elaborada, com grandes arranjos ou com muitos instrumentos por trás. Regravei-os, então, em formato One Man Show, comigo a fazer tudo. Ainda nesse mesmo ano, gravei o álbum "Family Tree", que só saiu agora, em 2011. Este já é um trabalho muito mais composto, com muitas mais músicas. Foi algo mais pensado, mais elaborado. Senti necessidade de acrescentar alguns outros elementos, como a bateria, e rapidamente surgiu a ideia dos convidados. Pensei: não vou fazer tudo sozinho, talvez seja melhor convidar alguém que faça isso melhor do que eu. E então lembrei-me de algumas pessoas, como, por exemplo, o Kalú, dos Xutos & Pontapés, pois tinha uma música que achava ter tudo a ver com ele (mostrei-lha, ele concordou e foi para estúdio de bom grado). Convidei, também,outras pessoas: a Emmy Curl, com a qual gravei um tema dos Pixies, Hey; o Zé Maria e o Gonçalves, para os saxofones, pois achei que seria engraçado ter ali uma linha de saxofone, entre outros. No fundo, achei que tinha que evoluir para algum lado e para uma coisa mais composta, que é o "Family Tree".

PP - Comotêm reagidoos teus fãs a este teu novo álbum? A adesão aos espectáculos tem sido boa?

FC - Bem, não sei se é por uma questão de simpatia, mas as pessoas têm-me dito que têm gostado do disco. Têm-me dado os parabéns, inclusive! E os concertos também têm corrido bem. Tanto toco em ambientes mais calmos, como em ambiente mais fortes e as pessoas respondem bem a qualquer um dos dois, o que me deixa muito contente.

PP - Comofoi trabalhar com o produtor Nelson Carvalho, responsável pela produção dos discos de The Legendary Tiger Man, Rita Redshoes e David Fonseca, entre outros?

FC - Foi óptimo. Ele tem bastante experiência, éaquela pessoa que consulto sempre que tenho dúvidas relativamente a algo, a alguma sonoridade, por exemplo. Se ele achar queé uma ideia aexplorar, aprova, mas se achar que fica mal, também não hesita em dizê-lo. Confio nele a 100%, é uma pessoa muito experiente, já gravou vários tipos de sonoridade com vários tipos de músicos. Como tinha ficado bastante contente com o EP, também produzido por ele, foi logo a primeira pessoa em que pensei para a gravação deste disco.

PP - Muitos têm sido os concertos de Norte a Sul do país. Para quando a internacionalização, numa altura em que há um grande número de projectos portugueses a «darem cartas» no estrangeiro, como os Deolinda, The Gift, David Fonseca, etc.?

FC - Eu quero muito tocar lá fora e estou, definitivamente, a trabalhar para isso. Já enviei vários discos e cartas para vários sítios, nomeadamentepara Londres e França.

PP - Em França jáexiste, inclusive, uma rádioa passar a tua música...

FC - Sim, é verdade. Há alguém com uma rádio em Paris que descobriu a minha música. Também já a ouvi numa rádio holandesa, que me abordou na altura de lançamento do EP. Já enviei, agora, o disco, pode ser que lhe dêem, também, algum destaque.

PP - Como encaras, enquanto músico, o apoio aos novos projectos musicais portugueses?

FC - Vou limitar-me a falar da Optimus Discos, que me apoiou e abriu novas portas para a gravação do EP. Aliás, mais do que uma porta, abriu-me uma garagem, ao dar-me imenso destaque da rádio, o que foi óptimo. Também através da Optimus Discos conheci o melhor produtor em Portugal, e dei-me muito bem com ele, o que se revelou muito positivo. Mas sei que, além da Optimus Discos, há muitos outros apoios à música nacional em Portugal, que são muito importantes.

PP - Para terminar, e para os leitores que não conhecem o teu trabalho, como é que o defines?

FC - Muitas guitarras, muitas afinações. Um som tranquilo quando é para ser tranquilo e um som mais «arranhado» quando tem que ser. Ah, e canto em inglês. Relativamente ao último álbum, é um trabalho que aborda muitas questões pessoais, é um pouco o espelho daquilo que sou e daquilo que gosto - o blues e o folk.

Ana Cláudia Silva