Quando "Slow Focus", o terceiro álbum dos Fuck Buttons, foi lançado, a crítica foi unânime ao considerar o trabalho de Andrew Hung e Benjamin John Power como um dos melhores entre os que viram a luz do dia em 2013. Foi esse novo registo que trouxe o projeto de Bristol a Portugal, para um concerto na discoteca Lux, em Lisboa.

Falar sobre a dupla eletrónica é o mesmo que trazer o psicadelismo à baila. É caos, é barulho, é música experimental - mas tudo com a dose certa de precisão e organização. E, ainda que a sala do Lux não tenha esgotado para receber os Fuck Buttons, foram vários os presentes que que quiseram ser surpreendidos.

A única nota negativa vai para os 40 minutos de atraso do concerto. Hora marcada para as 23h00 que, afinal, atrasava para 23h40. Ainda assim, a dupla soube compensar a espera, oferecendo uma brutal carga sonora.

Escutar ao vivo temas como o cativante “Brainfreeze”, o cambaleante “The Red Wing” ou o audacioso “Stalker”, todos eles do novo álbum, faz perceber que a repetição infinita de padrões, que parecem desorganizados, em cada uma destas faixas produz um estado hipnótico e que evoca algo muito mais negro e turbulento, tal como sugerido no título “Slow Focus”.Por isso, acabou por não espantar a projeção das paisagens idealizadas por Hung e Power: as suas sombras projetadas na parede, sombras essas que iam intercalando o espaço com vários tons de cores e padrões pré-definidos. Algo que ajuda bastante à experiência, já que raramente este tipo de atuações é visualmente estimulante.

Há ainda que destacar a desconcertante variedade de pedais de distorção e pedaços de samplers patentes na mesa de som da dupla. As vozes impercetíveis de cada um dos elementos, sempre que estes se muniam dos microfones, e aliadas ao poderio sonoro saído das colunas, tornavam qualquer faixa num ato de pura visceralidade.

Foi um desempenho que mostrou atenção aos detalhes. Já no encore, a imponente “Sweet Love for Planet Earth”, do álbum de estreia, "Street Horrrsing", mostrou a sua delicada e fragmentada melodia com ensurdecedores gritos de euforia por parte de Power.

Ver um concerto dos Fuck Buttons é sinónimo de surpresa? Não duvidamos. Mas, acima de tudo, só prova um ato de classe e uma perspetiva muito distinta entre a eletrónica experimental e a explosão sonora.

Texto: Alexandre Lopes