Bernard Sushi, instrumentista dos Hipnótica, revelou ao SAPO Música que este é um trabalho mais “espontâneo”, menos “cerebral” que os anteriores. João Branco Kyron explica que esta diferença se nota pelo uso da viola acústica e pelo destaque que é dado à melodia das vozes. É um disco onde as músicas podem ser ouvidas de forma isolada, não existe uma ligação conceptual que aborde o álbum como um todo. Para estas mudanças contribuíram os ares do campo. A banda deixou o seu estúdio habitual e mudou-se para uma paisagem campestre com o intuito de estar alguns dias a “viver para a música: ver dvd’s de música, comer música...” e, desse encontro, surgiram “ideias mais luminosas e mais leves”. O vocalista acredita que a sua música vai tocar as pessoas: «vamos reatar namoros e até fazer filhos com a nossa música porque, de facto, ela presta-se a isso».
Internet: uma relação difícil
Os Hipnótica são uma banda experiente cujo primeiro álbum foi lançado em 1997. Mais de uma década depois, quando sobe ao palco Sushi confessa que ainda sente um frio na barriga, um certo nervosismo. Todavia, em palco, depois dos dois concertos de apresentação do novo disco, é com orgulho que nos diz que ficou feliz porque viu que estas são as músicas que quer realmente tocar. As pessoas encheram os sítios onde foram actuar e esta recepção é compatível com as formas de comunicação que a banda tem vindo a explorar. Com Facebook e MySpace activos, vão disponibilizando novidades e fotos exclusivas. “Estamos muito focados no lado positivo que a internet tem para nos dar, que é o lado da promoção”, conta Bernard, apesar de muito conscientes dos perigos que representa o livre acesso e o download. Algumas pessoas “pensam que os álbuns são construídos por geração espontânea e não percebem o tempo e as pessoas que envolve gravar um disco”, diz Kyron. Todavia, o intérprete está confiante que se trata de um período passageiro e que, com o avançar do tempo, as pessoas vão ganhar uma maior espírito crítico e aprender a escolher entre aquilo que realmente tem interesse.
O sopro da juventude
Apesar da sua longevidade no universo da música, olham com carinho os novos projectos como o da editora Flor Caveira. João considera que «é saudável porque veio acrescentar à música feita em Portugal uma identidade nacional. A música portuguesa é cada vez mais ecléctica e as linguagens são cada vez mais próximas do que se vê no estrangeiro». Apesar da divulgação destes novos projectos através do «OFF BITS» e dos «Novos Talentos» da Fnac, ambos concordam que ainda é difícil considerar a hipótese de viver da música. Mas estamos a assistir a uma mudança, assevera Sushi. Kyron concorda e, para ele, só não é mais rápida porque em Portugal ainda não se olha a música como um produto exportável Se assim fosse, isso «faria com que as bandas ganhassem massa crítica em termos de mercado e em termos de público, para poderem crescer noutros sentidos». Não significa isto que se esteja a promover a banalização da produção musical. João, quando lhe perguntamos o que encontraríamos no seu iPoda, garante que houve um pouco de tudo, menos música plastificada. «É impossível transformar plástico em bits», brinca o vocalista. Para si têm valor as «bandas que investem, que têm uma linguagem própria e personalidade». Apesar de todas as dificuldades inerentes à produção e divulgação musical «respiramos saúde e criatividade na música feita em Portugal», conclui João Branco Kyron.
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