Em declarações à agência Lusa, Jonas afirmou o seu ensejo de resgatar o fado batido, que foi praticado em Portugal no século XIX, e que consistia em ritmicamente seguir o compasso da melodia fadista, batendo um dos pés ou os dois ao mesmo tempo, possivelmente com uma coreografia.

“Nós enquanto país temos esta história misteriosa que o fado teve uma dança, como o flamenco tem, o samba, o kuduro ou o funk, todas as músicas urbanas têm uma dança, à exceção do fado, que misteriosamente desapareceu, ninguém sabe muito bem porquê, não há muitos estudos sobre isto”, disse Jonas reivindicando o seu "pioneirismo", já que “Bate Fado” foi o primeiro projeto que reacendeu “o ato de bater o fado”.

“O fado perdeu a dança e a percussão, ficaram só as guitarras e a voz”, declarou, referindo que “o fado de 1800 era muito mais aguerrido, muito mais festivo, com padrões”.

O coreógrafo realçou: “Essa coisa do preto e muito estático é uma coisa mais recente”.

Para Jonas “deixou de fazer sentido fazer fado sem o fado batido”, que passou a ser a sua “missão”.

O álbum “Maçã de Adão” é editado na sequência de “São Jorge” (2021), o seu primeiro álbum em nome próprio.

Referindo-se a “Maçã de Adão”, Jonas afirmou à Lusa que é “um projeto muito pessoal, intimista e biográfico”, pois é ele o autor das letras, havendo apenas “dois ou três fados tradicionais”.

“O ‘Maçã de Adão’ tem uma coisa muito diferente do ‘S. Jorge’, pois é um álbum que convida à dança, através das influências, que eu como fadista acho que o fado tem dentro, que são latino-americanas, afro-brasileiras, ibéricas, árabes, e tudo isto neste álbum é mais exposto”, disse.

“Quando comecei a fazer o álbum, não era tão urgente, mas depois comecei a perceber que a multiculturalidade que existe em Portugal e na nossa cultura. Não é uma ameaça à cultura portuguesa, mas sim uma riqueza”, disse o criador de “Lisboa, montra de recuerdos”, enfatizando que “é um abraço a toda a mundividência que o fado tem dentro”, e que ele próprio, como artista, tem.

“Este álbum tem isso tudo dentro, até a própria origem do fado, se vem dos brasileiros, dos árabes, eu acho que todos estão certos, pois eu acho que o fado é uma música de viagem, de barco”, argumentou.

A acompanhá-lo, no álbum, estão os músicos Acácio Barbosa e Bernardo Romão, na guitarra portuguesa, Tiago Valentim, na viola, e Yami Aloelela, na viola baixo, uma opção por um quarteto, o formato com que gosta de cantar, "até pelo diálogo entre as duas guitarras, 1.ª e 2.ª voz", como era comum na década de 1960, e ainda os "batedores de fados", Lancer Patrick e Lewis Sizright.

Um dos temas do alinhamento, que será o primeiro single do álbum, intitula-se "Mouraria, Moirama", de certa forma uma homenagem a parte da sua família que é originária deste bairro lisboeta.

Sobre si, Jonas afirmou: “Não me imagino um agente da cultura portuguesa, enquanto com estas características que nós a vemos, mas sim um agente do mundo que a cultura portuguesa tem dentro”, e "tratar com essa multiculturalidade da melhor forma, com curiosidade em vez de medo, com interesse em vez de afastamento".

Jonas, de 37 anos, com um percurso artístico multidisciplinar, disse que o seu “principal caminho foi sempre o fado”, que, profissionalmente, começou a cantar em Londres.

O fado era “uma música que se ouvia muito em casa, apesar de se dizer isso era vergonhoso, nós tínhamos vergonha na escola”.

O músico teve contacto com a música sacra, tendo frequentado coros de igreja e de música gospel.

Atualmente, além de fadista desenvolve a sua atividade profissional como coreógrafo e bailarino.

Em 2002 matriculou-se na escola de artes Chapitô, em Lisboa. Em 2005, antes de terminar o curso, fez parte do elenco do musical “A Canção de Lisboa”, de Filipe La Féria, levado a cena no Teatro Politeama. No ano seguinte partiu para Londres onde frequentou o National Centre for Circus Arts e desenvolveu a sua formação em dança.

Na capital britânica iniciou o seu percurso como fadista profissional, tendo feito parte do elenco d’O Fado Restaurant, além de participar em vários eventos na cidade. Regressou a Portugal em 2007.

Em 2010, entrou na Escola Superior de Dança, em Lisboa, e no ano seguinte tem a sua primeira experiência discográfica com “Fado Mutante”, assinado pelo grupo Rosa Negra, que recebeu em 2012 o Prémio Carlos Paredes/Câmara de Vila Franca de Xira.

Em 2015 fundou a Sinistra, uma casa de fados no centro de Sintra, nos arredores de Lisboa. Em 2021, lançou “São Jorge”, o seu primeiro álbum como cantautor.